Introdução: a Síndrome de Brugada (SdB) acarreta risco de morte súbita (MS) por taquicardia ventricular polimórfica ou fibrilação ventricular (TV/FV). Sobreviventes de parada cardiorrespiratória (PCR) têm indicação de cardiodesfibrilador implantável (CDI). Pacientes que evoluem com choques apropriados ou que recusam o CDI possuem indicação classe I de ablação por cateter. Para pacientes com SdB assintomáticos ou com sintomas atípicos a estratificação de risco é controversa e ablação pode ser uma opção em casos selecionados.
Métodos: esta série de casos inclui pacientes com SdB encaminhados para ablação de Brugada por razões que não TV/FV recorrentes em um centro brasileiro entre novembro 2016 e março 2021. Critérios de inclusão foram presença do padrão de Brugada tipo 1 espontâneo ao eletrocardiograma (ECG), ausência de cardiopatia estrutural e ausência de TV polimórfica ou FV espontâneas prévias. Dados clínicos, genéticos e eletrocardiográficos foram coletados a partir dos prontuários médicos. As indicações de ablação foram reportadas. Todos os pacientes foram submetidos a estudo eletrofisiológico com estimulação ventricular programada (EVP) antes da ablação. Os desfechos analisados foram (i) ocorrência de MS, TV/FV ou choque apropriado de CDI após a ablação, (ii) recorrência do padrão de Brugada tipo 1 após ablação e (iii) complicações dos procedimentos.
Resultados: 8 pacientes submetidos à ablação preencheram os critérios de inclusão, sendo a maioria homens (87,5%) com idade média de 36,9 anos. Sintomas reportados incluiram pré-síncope (25%), síncope vasovagal (50%), palpitações (37,5%) e dor torácica (37,5%). Apenas 1 (12,5%) apresentou FV à EVP pré-ablação, tendo recebido implante de CDI. Indicações de ablação incluiram transtorno psiquiátrico com necessidade de uso de lítio e profissão de risco como motorista de caminhão. Em um tempo de seguimento médio de 55 meses, 1 paciente (12,5%) apresentou síncope por FV após o procedimento e 3 (37,5%) apresentaram recorrência do padrão de Brugada tipo 1 ao ECG. Apenas 2 pacientes (25%) apresentaram pericardite responsiva a tratamento clínico e não houve complicações graves.
Conclusões: ablação por cateter é um procedimento seguro que pode ser utilizado no manejo individualizado de pacientes com SdB assintomáticos ou com sintomas atípicos.