Introdução: Em idosos, mulheres e diabéticos, a apresentação clínica do infarto agudo do miocárdio pode diferir da habitual. É sabido que dor atípica se relaciona com pior prognóstico devido ao retardo no diagnóstico e tratamento. Registros indicam que a dor atípica foi fortemente associada a menor acesso à terapia de reperfusão e maior taxa de óbito intra-hospitalar. A janela de tempo entre o início dos sintomas e a hora da trombólise - tempo sintoma-agulha (TSA) - reflete a demora da busca do paciente, por vezes por não reconhecer que está infartando, e da própria cadeia de atendimento na urgência, traduzindo o tempo total de isquemia. Nesse contexto, nosso objetivo é avaliar o TSA em função do tipo de dor e seus desfechos relacionados. Métodos: Estudo descritivo, a partir de corte transversal de pacientes incluídos na Pesquisa Soteropolitana de Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST (PERSISST). Foram comparados apenas os dados dos pacientes submetidos à trombólise durante o período de janeiro de 2019 a dezembro de 2021. Observou-se o tipo da dor - grupo I (dor típica) e grupo II (dor atípica) e o TSA, além de tempo sintoma-admissão, porta-agulha e óbitos. A normalidade da amostra foi testada pelo Teste de Shapiro-Wilk. Variáveis paramétricas foram analisadas com teste T de Student e não paramétricas pelo teste U de Mann-Whitney. Resultados: Foram incluídos 307 pacientes – 287 no grupo I e 18 no grupo II. Todos os óbitos intra hospitalares (8; 2,6%) ocorreram no grupo I, sendo este resultado atribuído à discrepância entre grupos. Observou-se diferença estatisticamente significante do TSA (em minutos) entre os grupos 1 e 2 [232’ (151’-370’) vs 333’ (241,25’-592,5’), p=0,008]. Ambos os tempos porta-agulha e sintoma-admissão mostraram-se significativamente alargados no grupo 2. O tempo sintoma-admissão, respectivamente aos grupos 1 e 2, foi de: [90’(47’-180’ v s168,5’(96,75’-296,5’) p=0,006]; tempo porta-agulha: [118’(76’-195’) vs 168’(124’-206,5’) p= 0,039]. Conclusão: A dor atípica se mostrou fator de retardo em todos os tempos observados, com atraso médio significativo de pelo menos uma hora na instituição da terapia de reperfusão. Apesar de já ser algo conhecido na literatura, esta ainda influencia na qualidade da assistência prestada aos pacientes com IAM e possivelmente na percepção do evento pelos mesmos. Isto evidencia a necessidade de reforçar protocolos na assistência e educação da população quanto a esta apresentação.