Introdução: A Covid-19 é uma doença associada com um estado pró-trombótico, o que coloca em questão se uma terapia anticoagulante poderia ser usada para prevenir desfechos negativos em pacientes hospitalizados, que representam casos mais severos da doença. Porém, alguns estudos obtiveram resultados divergentes em relação aos benefícios e à aplicabilidade dessa terapia em estratégias de prevenção. Objetivo: explorar a incidência de desfechos negativos em pacientes com Covid-19 hospitalizados que receberam ou não Anticoagulantes. Métodos: realizou-se um estudo observacional retrospectivo em que foram analisados prontuários médicos eletrônicos de pacientes, de um hospital terciário, com Covid-19 confirmada laboratorialmente. Os dados coletados referiram-se ao período entre Março de 2020 e Julho de 2020. A amostra foi dividida entre aqueles pacientes que receberam qualquer dose de anticoagulação (heparina não fracionada ou de baixo peso molecular) e aqueles que não receberam (grupo controle). O desfecho primário foi referente a dados de: mortalidade; tempo de internação hospitalar; necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI); e uso de drogas vasoativas entre os dois grupos. Resultados: De um total de 317 pacientes, 259 (37,8% mulheres) receberam Anticoagulantes e 58 (37,9% mulheres) não receberam. A taxa de mortalidade foi 49,4% no grupo de anticoagulação e 58,6% no grupo controle. Entretanto, não foi possível estabelecer associação entre uso de Anticoagulantes e mortalidade (odds ratio [OR] 1,4; 95% IC: 0,8 - 2,6). O tempo de internação foi semelhante entre os dois grupos: média de 17,8 dias (95% IC: 15,3 - 20,2) para os que receberam a terapia e 16,2 dias (95% IC: 9,5 - 22,8) para os que não receberam. Por fim, o uso da medicação não pôde ser associado à menor necessidade de internação em UTI (OR 1,6; 95% IC: 0,8 - 3,1), no entanto foi possível associá-lo à utilização de drogas vasoativas (OR 6,5; 95% IC: 3,2 - 13,3). Conclusão: O uso de Anticoagulantes em pacientes com Covid-19 hospitalizados está associado com menor necessidade de uso de drogas vasoativas. Porém, não há impacto em mortalidade, tempo de internação hospitalar e internação em UTI. Pretendemos avaliar essas questões com uma maior amostra de pacientes.