IntroduçãoA popularidade das ultramaratonas disparou nas últimas décadas, assim como, o interesse na ciência e na mecânica da forma como o corpo funciona em situações extremas, principalmente nas corridas, ja que, induz demandas fisiológicas substanciais em vários sistemas do corpo. Dessa forma, a participação de atletas em eventos de ultra-resistência tem aumentado constantemente nos últimos 30 anos. Apesar das pesquisas disponíveis, poucos estudos investigaram as consequências fisiológicas do exercício de ultra-resistência repetido em dias consecutivos.Relato de casoDS, 48 anos, atleta catarinense, passou sete dias correndo em um shopping de Florianópolis para tentar bater o recorde mundial de quilômetros percorridos em esteira, chegando a 800,61 quilômetros.O desafio terminou com a quebra de um recorde sul-americano. Foram 33 quilômetros para bater o recorde mundial. Durante a semana, ela fazia intervalos diários de duas horas. A rotina consistia em intervalos médios de cinco minutos a cada 55 minutos de corrida ou caminhada.DiscussãoEstudos avaliando pacientes submetidos a condições semelhantes ao caso encontraram alterações como perda transitória da função ventricular, aumento da lesão do tecido cardíaco, marcadores de lesão sanguínea do miocárdio , remodelação morfológica e funcional do ventrículo direito e átrio e diminuição da deformação longitudinal geral. Outra alteração que pode ocorrer é o aumento do valor do Escore de Cálcio Coronariano (EC) indicador que geralmente está associado ao aumento das placas ateroscleróticas na população em geral. Nesse estudo, o EC do atleta foi de zero.Foram avaliados os demais exames após a atividade de ultra-resistência. O eletrocardiograma de repouso apresentava bradicardia sinusal. O ecocardiograma constatou leve hipertrofia concêntrica de ventrículo esquerdo, com dimensões normais das câmaras cardíacas, função ventricular preservada e deformação global com pico sistólico de ventrículo esquerdo com discreta redução. Nos exames laboratoriais da atleta, havia níveis baixos de testosterona, sem presença de distúrbios hidroelétroliticos, troponina e CPK normais, porém, elevação significativa de CKmb, função renal normal, leve anemia e discreto aumento nas provas inflamatórias.ConclusãoApesar das pesquisas disponíveis, poucos estudos investigaram as consequências fisiológicas do exercício de ultra-resistência repetidos em dias consecutivos. Desse modo, percebe-se que há uma demanda em reavaliar e investir no aprofundamento dos estudos sobre os resultados das alterações cardiovasculares em ultra-atletas.