Introdução: O eletrocardiograma (ECG) é uma poderosa ferramenta de diagnóstico diferencial entre um grupo de patologias com diferentes abordagens terapêuticas e prognósticas, a chamada síndrome da onda J. O vetorcardiograma (VCG), sendo exame tridimensional, pode ser utilizado como método complementar ao ECG em diversas alterações eletrocardiográficas duvidosas.
Objetivo: Realizamos uma análise vetorcardiográfica, após desenvolver um novo parâmetro métrico (medida-JT), que quantificou a alteração vetorcardiográfica visual observada na maioria dos pacientes Brugada tipo, a qual permite o diagnóstico do padrão eletrocardiográfico de Brugada.
Métodos: Um estudo retrospectivo selecionou 96 ECGs (coorte de teste) com elevação do ponto J em V1/V2, ECG de derivações superiores e VCGs, todos realizados no mesmo dia. A nova medida foi obtida no VCG, pelo método de Frank, (JT-distância) através da inscrição, nos planos horizontal e sagital direito, de 3 linhas traçadas 1ª) no terço final da alça QRS, compreendendo o ponto J; 2ª) na porção inicial da alça T; 3ª) uma paralela à linha do ponto J traçada no início da alça de T. A medida-JT foi determinada pela distância entre as paralelas. Uma coorte de validação também foi estabelecida em uma nova amostra de trinta e cinco pacientes.
Resultados: Medida-JT ≥1,5 mm (plano horizontal) e medida-JT >1,25 mm (plano sagital direito), diferenciaram Brugada tipo 1 de Brugada tipo 2, repolarização precoce e outros, com sensibilidade de 95% e especificidade de 68% (p <0,05). Medida-JT <1,5 mm (plano horizontal) e JT >1,25 mm (plano sagital direito) tiveram 100% de sensibilidade e 85% de especificidade (p<0,05) para o diagnóstico de Brugada tipo 1. Uma coorte de validação mostrou que uma medida-JT ≥ 1,5 mm no plano horizontal poderia diferenciar ambos os tipos de Brugada de outros diagnósticos com sensibilidade de 61%, especificidade de 94% (p=0,0009). Quando a medida-JT no plano horizontal foi < 1,5 mm e o JT no plano sagital direito foi > 1,25 mm, encontramos sensibilidade de 83%, especificidade de 94%, para o diagnóstico de Brugada tipo 1 (p=0,001). Ambas as coortes mostraram níveis Cohen Kappa muito semelhantes (0,65 e 0,77, coortes de teste e validação, respectivamente), com intervalos de confiança de 95%.
Conclusão: A nova medida vetorcardiográfica (medida-JT) apresentou um novo critério diagnóstico para identificar o padrão de Brugada. No entanto, estudos prospectivos devem ser realizados em outros centros para confirmar esses achados.