Introdução: A estratégia farmacoinvasiva (EFI) constitui um meio eficaz para garantir reperfusão miocárdica em pacientes com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST), especialmente quando a intervenção coronariana percutânea (ICP) primária não pode ser realizada em tempo hábil. Objetivo: Avaliar as métricas de atendimento e os eventos cardiovasculares na experiência de uma década de uma rede municipal para tratamento do IAMCSST baseada na EFI. Métodos: Foram analisados pacientes atendidos entre março 2010 e setembro 2020, que receberam fibrinolítico em um dos 14 hospitais secundários que compõe a rede e foram transferidos ao hospital terciário para realização de cateterismo cardíaco. Variáveis numéricas foram descritas em mediana e intervalo interquartil. Os intervalos de tempo para reperfusão miocárdica foram também comparados entre tercis de 42 meses cada, utilizando o teste de Wilcoxon. Valor-p < 0,05 foi considerado significante. Resultados: Um total de 3.025 pacientes foram atendidos pela rede neste período. Foram excluídos da análise 201 (6,7%) pacientes com diagnósticos alternativos não-IAMCSST e 114 (3,8%) submetidos à ICP primária, de forma a incluir 2.710 pacientes consecutivos com IAMCSST tratados pela EFI, com idade de 59 [51-66] anos, 815 mulheres (30,1%) e 837 diabéticos (30,9%). O tempo do início dos sintomas até o primeiro atendimento médico foi de 120 [60-210] min e o tempo porta-agulha foi de 70 [43-115] min. A ICP de resgate foi necessária em 929 pacientes (34,3%), nos quais o tempo fibrinólise-ICP-resgate foi 7,2 [4,9-11,8] h, comparado a 15,7 [6,8-22,7] h naqueles que tiveram critérios de reperfusão. Não houve diferença significativa no tempo porta-agulha na comparação entre os tercis de 42 meses, respectivamente 65 [42-100] min, 71 [45-110] min e 73 [45-120] min; valor-p = 0,15. O tempo fibrinólise-ICP-resgate também não apresentou diferença significativa entre os tercis, respectivamente 6,9 [4,6-11,2] h, 7,1 [4,8-11,8] h e 7,2 [4,9-12,0] h; valor p = 0,28. A mortalidade hospitalar por todas as causas ocorreu em 151 (5,6%) pacientes, reinfarto em 47 (1,7%) e acidente vascular cerebral isquêmico em 33 (1,2%). Sangramento maior ocorreu em 73 (2,7%) pacientes, incluindo 19 (0,7%) casos de sangramento intracraniano. Conclusão: Na experiência de uma década da rede municipal para tratamento do IAMCSST baseada na EFI, foram observadas taxas relativamente baixas de mortalidade e de complicações cardiovasculares, apesar de métricas persistentemente prolongadas para terapia fibrinolítica e ICP de resgate.