O implante de Marcapasso provisório transvenoso (MPPTV) é um procedimento consagrado na cardiologia em situações de urgência, sobretudo em bradicardias instáveis. Algumas situações exigem a passagem do MPPTV em taquiarritmias ventriculares (TV). Relatamos 2 casos que cursaram com diversos episódios de TV polimórfica decorrentes de prolongamento de intervalo QTc (IQTc) e a passagem de MPPTV foi a maneira encontrada de estabilizar imediatamente estes pctes.
Caso 1: Homem, 18a. Trazido a emergência por síncope e crises convulsivas após atividade física extenuante. Foi realizado ECG que revelou IQTc de 647ms. Já na UTI cardiológica apresentou diversos episódios de TV polimórfica e FV com necessidade de desfibrilação. Foi passado prontamente MPPTV e ajustado FC em 90bpm, cessando os episódios de TV. Feita HD de Síndrome do QT longo congênito. Iniciado tratamento com propranolol implantado Cardiodesfibrilador, programado em modo AAI 80bpm. O pcte foi afastado de todas as atividades físicas e não apresentou até o momento novas arritmias. Ainda no aguardo do resultado do teste genético.
ECG inicial QTc 647ms.
Indução TV polimórfica em UTI
Caso 2: Homem, 74ª. Internado por Insuficiência renal e sepse grave, cursou com flutter atrial e iniciado amiodarona EV, mantida por mais de 72h. Evoluiu com inúmeros episódios de PCR em TV polimórfica e FV, revertida com RCP e aumento da infusão da amiodarona. Após, observado em ECG FC 50bpm e IQTc acima de 570ms. Ao monitor, diversos episódios de TVNS. Prontamente implantado MPPTV, sendo ajustado a 90bpm. Suspensa amiodarona e outras medicações prolongadoras do IQTc. O mesmo não apresentou mais episódios de TV polimórfica ou FV. Após 18 dias, o IQTc era 530ms. Ainda aguardava melhora clínica para definição de conduta definitiva.
ECG inicial QTC 617ms
ECG após 18 dias sem amiodarona QTC 530ms
Discussão: São diversas as causas de prolongamento do IQT, o que aumenta o risco de TVs. O MPPTV, consagrado em situações de bradicardias instáveis, também podem ser indicados em casos de IQT longo com arritmias ventriculares graves, programando FC mais altas para a estabilização elétrica e clínica, já que a indução de FV nestes casos pode ser decorrente à bradicardia e ciclos ventriculares curtos e longos. Esta série de casos demonstra a importância do cardiologista clínico em conhecer as indicações de MPPTV de urgência, não apenas em bradicardias, mas também em situações em que o prolongamento do IQT gerou TV e FV.