Relato de caso: LLM, 29 anos, sexo feminino, estudante, procura assistência médica devido quadro tosse associado a dispneia aos pequenos esforços com início há 5 dias e edemas de membros inferiores (MMII). Nega comorbidades ou uso de drogas de uso contínuo.
Ao exame: corada, anictérica, acianótica, dispneica em repouso com FR=27 irpm. PA= 120x60 mmHg ; FC=FP= 105 bpm. RCR, 2T, BNF s/ sopros. MVAU reduzido em bases com EC bilateralmente e roncos esparsos. MMII com edema 1+/4+ até joelhos, panturrilhas livres, pulsos preservados.
Exames laboratoriais: leucócitos: 6700 sem desvios, PCR=9,2, CPK=267 , CK-MB=7,2 , TROPONINA I= 4 , Creat: 1,6 , Ur: 70. RT-PCR positivo para Covid-19.
ECO: Disfunção sistólica do ventrículo esquerdo de grau moderado , às custas de acinesia da parede inferior e dos segmentos médio-basal da parede septal do ventrículo esquerdo. FE=40% (Simpson), PSAP estimada em 19 mmHg.
HD: Infecção por Covid-19 grave com acometimento cardíaco.
Paciente foi transferido para unidade de terapia intensiva (UTI) para suporte de oxigênio de forma não invasiva e para compensação clínica com vasodilatadores e diuréticos. Foi submetida a angio tomografia de coronárias que não demonstrou obstruções coronarianas. Houve falha na abordagem inicial devido piora dos sintomas, sinais de baixo débito e piora da função renal. Foi necessário o emprego de Dobutamina até 15 mcg/Kg/min. 3 dias após foi iniciado o desmame porém não houve sucesso. Retornou-se a Dobutamina e paciente foi listado para transplante cardíaco. Permaneceu cerca de 40 dias na UTI e após otimização da terapêutica oral no quarto por 7 dias recebeu alta hospitalar em uso de: Sacubitril + Valsartana 24/26 2 x dia, Espironolactona 25 mg/dia, Furosemida 40 mg/dia, Carvedilol 25 mg/dia.
Antes de receber alta da UTI realizou RNM cardíaca com os seguintes achados: Disfunção sistólica biventricular moderada /importante (FEVE=36%), achados sugerem sequela importante de evento imuno-inflamatório (miocardite).
Nos últimos 18 meses, paciente necessitou de 7 internações por Insuficiência cardíaca (IC) aguda. Todas com necessidade inotrópico positivo. Permanece em acompanhamento ambulatorial, listada para transplante. Repetiu a RNM cardíaca após 16 meses da prima infecção que não demonstrou diferenças.
Conclusão: Na literatura ecnontra-se poucos casos de miocardite grave pós infecção pelo novo Coronavírus, ainda mais com ausência de recuperação parcial ou total da função miocárdica e com indicação precisa de transplante cardíaco.