Introdução: A abordagem percutânea das doenças valvares tem ganhado mais importância nos últimos anos, se estendendo para outras valvas além da aórtica. O tratamento transcateter da valva mitral está cada vez mais bem sedimentado e incorporado à rotina dos centros de referência; entretanto, procedimentos na valva tricúspide ainda são raros. Apresentamos o caso de uma paciente idosa com alto risco cirúrgico e insuficiência cardíaca refratária ao tratamento medicamentoso que foi submetida com sucesso de forma simultânea ao tratamento percutâneo da valva mitral e tricúspide.
Relato do Caso: paciente feminina, 87 anos, previamente independente para atividades básicas e instrumentais de vida diária, apresenta dispneia, cansaço e edema de extremidades progressivos nos últimos 4 meses. Nesse período teve 2 internações hospitalares por insuficiência cardíaca descompensada perfil B com necessidade de diureticoterapia endovenosa. Como comorbidades tem hipotireoidismo, marcapasso dupla-câmara desde 2019, fibrilação atrial de difícil controle com ablação do nó atrioventricular em 2020 e trombose venosa profunda do membro superior direito em anticoagulação oral, além de dextrocardia. Ecocardiograma identificou função biventricular preservada, com dilatação importante biatrial e de ventrículo direito, além de prolapso mitral associado à dilatação do anel com insuficiência importante e insuficiência tricúspide com falha de coaptação e refluxo torrencial secundários à dilatação do anel. Calculado risco cirúrgico pelo STS sendo considerado alto risco (17,29% mortalidade estimada). Discutido caso em Heart-Team sendo optado por intervenção transcateter com clipagem percutânea da valva mitral (MitraClip) e abordagem heterotópica da tricúspide (Tricvalve) devido à grande falha de coaptação e presença de eletrodo do marcapasso em câmaras direitas. Paciente submetida a ambos procedimentos de forma simultânea, com dificuldade técnica devido à dextrocardia, porém com sucesso. Durante o pós-operatório, apresentou disfunção biventricular discreta transitória com necessidade de inotrópicos. Evoluiu com melhora clínica progressiva, com normalização da função ventricular e adequado controle dos sintomas com medicamentos orais, recebendo alta para seguimento ambulatorial.
Conclusão: O caso relatado apresenta uma forma alternativa e minimamente invasiva no tratamento de uma paciente idosa com insuficiência cardíaca por valvopatia refratária ao tratamento medicamentoso e com alto risco cirúrgico, submetida de forma eficaz a um procedimento transcateter de alta complexidade.