Introdução: A Feohifomicose ou cromoblastomicose é uma doença fúngica crônica localizada principalmente na pele e no tecido subcutâneo, sendo Fonsecaea pedrosoi o fungo mais frequente. A infecção geralmente se desenvolve após uma inoculação traumática na pele, apresentando-se, posteriormente, como uma pequena pápula semelhante à couve-flor. Podem ulcerar, evoluindo com disseminação linfática ou hematogênica. As infecções são a principal causa de óbito nos pacientes transplantados cardíacos, sendo os fungos o terceiro agente etiológico predominante.
Relato de caso: Homem, 44 anos, vigilante, negro, transplantado cardíaco em 2017, em uso de Azatioprina e Tacrolimus. Iniciou quadro de lesões ulceradas, com exposição de plano profundo e secreção exsudativa em região temporal e membro superior direito (figura ¹), em agosto de 2021. Cerca de 2 meses depois evoluiu com afasia e sonolência. Visto em tomografia de crânio (figura 2), lesão expansiva frontal à esquerda, submetido à ressecção cirúrgica (figura 3).Diagnosticado com Cromomicose cerebral, através do resultado de cultura demonstrando o fungo do gênero Fonsecaea sp. O tratamento complementar foi realizado com uso prolongado de Anfotericina B durante internação e após alta substituído por Voriconazol. Recebeu alta hospitalar com melhora do quadro neurológico e cutâneo.
Discussão: Feohifomicose cerebral corresponde à infecções cerebrais causadas por fungos dematiáceos. Os sintomas predominantes são produzidos por efeito de massa no parênquima cerebral, como observado em nosso paciente. O risco do paciente transplantado cardíaco apresentar infecção está relacionado diretamente com o uso de drogas imunossupressoras, como esteróides, micofenolato de mofetil e tacrolimus, os quais prejudicam gravemente todos os componentes da imunidade, incluindo a imunidade inata e adaptativa. O manejo da cromomicose geralmente combina tratamento cirúrgico e medicamentoso, sendo os principais antifúngicos, o itraconazol, voriconazol e posaconazol.
Conclusão: A feohifomicose do sistema nervoso central é uma patologia rara em pacientes transplantados cardíacos. A taxa de mortalidade entre os pacientes com essas infecções é de pelo menos 50%, a alta taxa de mortalidade destaca a necessidade de terapia agressiva. O caso descrito se destaca pela gravidade do quadro, porém com boa resolução com tratamento combinado cirúrgico e anti-fúngico, mesmo tratando-se de paciente imunocomprometido.