Introdução: A estenose aórtica baixo-fluxo e baixo-gradiente com fração de ejeção reduzida (BFBG) é um estágio avançado da estenose aórtica (EAo), com mau prognóstico com tratamento clínico e alta mortalidade cirúrgica com a troca valvar aórtica (TVAo). Além disso, pacientes sem reserva contrátil (RC) são frequentemente contraindicados para cirurgia. No entanto, faltam dados sobre o impacto da RC na mortalidade associada à TVAo.
Objetivo: avaliar o impacto da RC nos desfechos a longo prazo após TVAo em pacientes com EAo BFBG.
Métodos: Estudo prospectivo incluindo 41 pacientes EAo BFBG (área valvar aórtica ≤ 1,0 cm², gradiente transaórtico médio (Gm) < 40 mmHg, fração de ejeção do ventrículo esquerdo <50%) com EAo verdadeiramente importante. Todos os pacientes foram submetidos a ecocardiograma de estresse com dobutamina e ressonância magnética cardíaca (RMC) com mapa T1. Pacientes com EAo pseudo-importante foram excluídos. O desfecho composto avaliado foi mortalidade e readmissão hospitalar.
Resultados: Todos os pacientes eram portadores de EAo degenerativa, com mediana de idade de 66 [60-73] anos, sendo a maioria do sexo masculino (83%). Encontrou-se alta prevalência de comorbidades, destacando-se diabetes (39%), hipertensão (68%), fibrilação atrial (26%) e doença arterial coronariana (36%). No ecocardiograma de estresse, encontramos 30 pacientes (73,1%) com RC e 11 pacientes (26,9%) sem RC. Pacientes com e sem RC apresentaram características ecocardiográficas semelhantes, exceto pela área valvar aórtica, menor nos pacientes com RC (0,80 [0,60-0,92] vs 0,95 [0,80-0,98] cm², p=0,020). Na RMC, a fração de volume extracelular (ECV) e o ECV indexado também foram semelhantes entre aqueles com e sem RC (28 [26-31] vs 28 [27-33]%, p=0,441 e 36 [26-41] vs 28 [20- 34]ml/m², p=0,183, respectivamente). Bioprótese foi implantada em 78% e cirurgia de revascularização miocárdica foi realizada concomitantemente em 14% dos pacientes. A mortalidade em 30 dias foi de 14,6%. Pela análise multivariada ajustada para RC, apenas o Gm (HR: 0,923, IC 95% 0,864-0,986, p=0,019) foi associado ao desfecho composto. A mediana de seguimento foi de 36 [4-50] meses e não houve diferença de mortalidade entre os pacientes com e sem RC ao final do seguimento (Figura 1).
Conclusões: O gradiente transaórtica médio foi o único fator independente associado a desfechos a longo prazo após TVAo em pacientes com EAo BFBG. A RC não apresentou impacto prognóstico nos desfechos a longo prazo.