Introdução: A pandemia COVID-19 impôs novos desafios à gestão dos serviços de saúde especializados. No lockdown, o atendimento presencial foi suspenso em muitas unidades, sendo o Apoio Matricial (AM), de forma remota, uma ferramenta de retaguarda às equipes da atenção primária à saúde (APS). A equipe da Atenção Secundária em Cardiologia (AS), da Prefeitura Municipal de Campinas (PMC), utilizou seu email institucional para ofertar a telecardiologia, na forma de discussão de casos clínicos, avaliação de eletrocardiograma online e classificação de risco dos encaminhamentos ao cardiologista conforme complexidade do caso. Esta ferramenta estava disponível desde 2019, porém ampliou-se o serviço de teleconsultoria por email, previamente pouco utilizado pela rede. O objetivo do estudo foi avaliar o conteúdo destes emails, quantificando a frequência de grupos diagnósticos com a classificação de risco amarela que indica maior gravidade. Métodos: Trata-se de um estudo observacional transversal, utilizando dados coletados por cardiologistas apoiadores matriciais discutidos via e-mail com as equipes da APS-PMC.
Resultados: Em um total de 2224 casos discutidos entre 01/01/2021 a 31/12/2021 temos que coronariopatia de alto risco instável (infarto < 6 meses, angina instável, angina em paciente de alto risco) foi motivo de encaminhamento em 11% dos casos (90% classificados como amarelos), insuficiência cardíaca descompensada foi motivo de 9% dos encaminhamentos (73% classificados como amarelo); Angina em paciente com risco intermediário (estratificação não invasiva) 6% dos casos (46% dos amarelos). Complicações cardiológicas pós-COVID 1% dos encaminhamentos (72% amarelos). Hipertensão descompensada 2% (36% amarelos). Pré-operatório 2% dos casos (55% prioritários). Hipertensão compensada/ paciente baixo risco (avaliação conjunta para segmento na APS) 2% dos encaminhamentos. Laudo de ECG ocorreu em 3% (3% classificados amarelos). Conclusão: A incorporação da telecardiologia no atendimento da AS SUS/Campinas foi uma experiência exitosa durante a pandemia COVID-19. Através desse método foi criada uma interface de diálogo entre a APS e AS aumentando a resolutividade da rede e promovendo maior equidade no atendimento baseado em classificação de risco. O aprimoramento deste canal de atendimento será de grande importância nos próximos anos, impactando positivamente no cuidado às doenças cardiovasculares.