Introdução: Atualmente, a insuficiência cardíaca (IC) por quimioterápicos pode ser definida pela queda de 10% da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) para um valor abaixo de 50%. Essa complicação pode resultar em interrupção precoce do tratamento oncológico, diminuição da qualidade de vida, hospitalizações e morte. Por outro lado, estudo recente mostrou benefícios da prescrição de dapagliflozina (DAPA) um inibidor seletivo do co-transportador de sódio-glicose tipo 2 (iSGLT2) na redução de hospitalização e morte em portadores de IC. Porém, até o momento existem lacunas sobre o uso de DAPA no tratamento de pacientes com IC por toxicidade a quimioterápicos. Objetivo: Descrever em uma série de casos os desfechos cardiovasculares (remodelamento reverso, hospitalização e morte cardiovascular) associados à utilização de DAPA associada à terapêutica otimizada em portadores de IC por quimioterápicos submetidos a avalição repetida da FEVE pela ecocardiografia em curto prazo. Métodos: Estudo de série de casos (n=12) em portadores de IC por quimioterápicos submetidos ao tratamento com DAPA no período de 2020 a 2022 no ambulatório de cardio-oncologia de um hospital terciário. Resultados: Dentre os 12 pacientes avaliados, 9 eram mulheres com história de neoplasia de mama e 3 apresentavam neoplasias hematológicas (2 homens e 1 mulher). A média de idade foi de 54±14 anos. Os fatores de risco mais prevalentes foram obesidade e hipertensão arterial (n=5;42%, n=4; 33%, respectivamente). IC sintomática foi observada em 33% (n=4) dos casos. As antraciclinas (n=5;42%) e antraciclinas associada a terapia antiHER2 (n=6, 50%) foram os quimioterápicos utilizados por esses pacientes. Foram prescritas para otimização da IC, sacubitril/valsartana (n=2; dose média: 400 mg/dia), IECA (enalapril;n=10; dose média: 14±11 mg/dia), betabloqueador (carvedilol; n=9; dose média 55±17; bisoprolol; n=3;; 7,5±4 mg/dia) e espironolactona (n=8; dose média: 30 mg/dia). A média da FEVE antes do início do tratamento com DAPA e após o uso desse medicamento foi de 39±6% e 52±5% respectivamente. Todos os pacientes apresentaram IC melhorada (incremento de 10% da FEVE, atingindo valores acima de 40%) ou recuperação da FEVE > 50%. O tempo médio de melhora da FEVE foi de 122±136 dias. Não houve hospitalização e morte cardiovascular no período avaliado. Conclusão: O presente estudo mostra que a prescrição de DAPA em portadores de IC por quimioterápicos é segura e pode estar relacionada à melhora precoce da FEVE, proporcionado na maioria dos casos (n=10) a manutenção do tratamento oncológico.