Introdução
Para o diagnóstico de infarto agudo do miocárdio (IAM) com supradesnivel do segmento ST (SST), segundo a 4° Definição Universal de Infarto do miocárdio, é necessária a presença de SST em duas ou mais derivações contíguas¹. Entretanto, isso reduz a sensibilidade para o diagnóstico de IAM com SST em certas topografias².
Aslanger, et al. (2020) identificou um novo padrão eletrocardiográfico (ECG) relacionado ao IAM inferior, com lesão oclusiva ou suboclusiva da artéria circunflexa (CX) ou coronária direita (CD). O padrão foi definido como:
(1) supra de ST em DIII, mas não em outras derivações inferiores,
(2) infra de ST em derivações de V4 a V6 (com exceção de V2) com uma onda T positiva,
(3) ST na derivação V1 mais alta do que na derivação V2.
Apresentamos dois casos de IAM de parede inferior com ECGs que apresentam este padrão.
Caso 1
Homem, 63 anos, previamente com diagnóstico de hipertensão arterial, dislipidemia e IAM com angioplastia de CD há 2 meses, procurou atendimento por dor precordial do tipo aperto com inicio há 5 horas. Realizado ECG (figura 1). Submetido à coronariografia após 11 horas do atendimento inicial, observada oclusão no terço proximal da CD intra-stent (figura 2) e oclusão crônica da artéria CX em terço médio (figura 3). Realizada angioplastia de CD com stents farmacológicos com bom resultado.
Caso 2
Homem, 54 anos, com dor torácica típica com 3 dias de evolução. Previamente hipertenso, diabético tipo 2 e com doença arterial coronariana com angioplastia de CD em 2018. Realizado ECG (Figura 4). Submetido ao cateterismo cardíaco que demonstrou lesão suboclusiva em CD intra-stent (Figura 5) e lesões importantes em território de coronária esquerda (Figura 6). Submetido à revascularização cirúrgica do miocárdio com boa evolução.
Discussão
Pode-se explicar a apresentação do padrão de Aslanger pela perspectiva da orientação do vetor ST. A isquemia subendocárdica causada pelas oclusões críticas concomitantes aponta para a derivação AVR, enquanto o vetor da isquemia transmural causada pelo IAM inferior, nesses casos, aponta para DIII e AVF³ (figura 7). A soma desses vetores forma um vetor resultante que se projeta horizontalmente e para a direita, resultando em SST em DIII, mas não em DII e AVF, acompanhado de infra desnível nas derivações laterais².
Conclusão
O reconhecimento deste padrão é comum em pacientes com IAM sem supra desnível de ST (6,3%) ² e deve ser valorizado, pois denota evento aterotrombótico agudo com pelo menos uma lesão crítica estável associada.