Introdução: A cardiotoxicidade aguda é uma complicação da terapia onco-hematológica resultando em interrupção precoce do tratamento, hospitalizações e morte. Disfunção ventricular relacionada ao câncer (DVRC) pode ser definida como a queda de 10% da fração de ejeção para um valor abaixo de 50%. Posicionamentos recentes sugerem estratificação de isquemia na presença de DVRC. No entanto, até o momento faltam evidências para confirmar essas orientações. Objetivo: Avaliar os desfechos cardiovasculares (síndrome coronariana aguda (SCA), síndrome coronariana crônica (SCC), hospitalização e morte cardiovascular) em portadores de DVRC submetidos ou não a estratificação de doença arterial coronariana (DAC). Métodos: Estudo transversal restrospectivo em portadores de DVRC por antraciclinas, anti-HER2, agente alquilante e inibidor de tirosina quinase no período de 2016 a 2021. Os participantes foram divididos em dois grupos: Grupo EDAC: estratificado para DAC Grupo nEDAC: não estratificado para DAC após julgamento clínico. Resultados: 33 portadores de DVRC foram avaliados e divididos em grupo EDAC (n=14; 54±9 anos) e grupo nEDAC (n=19; 47±17 anos; p=0,27). Observou-se maior incidência de DVRC sintomática no grupo EDAC (n=9; 64%) em comparação com o grupo nEDAC (n=5; 26%). As neoplasias hematológicas e de mama foram as principais doenças nos grupos EDAC e nEDAC (n=6; 42%, n=7; 37% e n=7; 50%, n= 11; 58%) e as principais drogas relacionadas à DVRC foram, respectivamente: antraciclinas (n=5; 36% e n=9; 75%) e antraciclinas associada à terapia antiHER2 (n=6, 43% e n=7, 37%). Adicionalmente, observou-se diferença significativa na probabilidade pré-teste de DAC pelo escore de Morise no grupo EDAC (10,5±2,2) em comparação com o grupo nEDAC (7,1±6;p=0,03). O grupo EDAC realizou estratificação de isquemia com angioCT de coronárias (n=7, 50%), cintilografia miocárdica (n=6, 43%) e ecoestresse (n=1, 7%). Em relação aos desfechos cardiovasculares, não foi observado nenhum evento em ambos os grupos. nos grupos EDAC e nEDAC respectivamente. Conclusão: O presente estudo mostra que a presença de DVRC por antraciclinas, anti-HER2, agente alquilante e inibidor de tirosina quinase não foi associada a DAC sugerindo que a estratificação de isquemia possa ser realizada apenas em casos com alta suspeição e sem prejudicar o tratamento oncológico.