INTRODUÇÃO: A presença de hábitos e práticas em certas populações classificadas como baixo-risco pode estar associado à ocorrência de eventos cardiovasculares maiores, como infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral. Apresentamos o caso de um paciente de baixo-risco cardiovascular o qual cursou com IAM com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) seguida de pericardite e cujo único hábito de risco seria o consumo recreativo de cannabis.
RELATO DE CASO: Homem de 35 anos, sem comorbidades ou antecedentes familiares relevantes, referia etilismo de carga “usual”(2-3 doses ao dia aos fins de semana), uso de cannabis de caráter diário (quantidade variável, consumindo até 10 cigarros ao dia) e com relato de uso prévio de cocaína de forma esporádica, sem uso há mais de 10 anos. Apresentou quadro de dor anginosa com ictus em 26/02/2022 às 15h, procurando serviço de saúde em Pronto-Socorro somente às 5h do dia 27/02/22. Lá, diagnosticado com IAMCSST em parede anterior em ECG (troponina de alta sensibilidade >250000), Killip II, e encaminhado ao hospital quaternário de referência para realização de angioplastia primária, onde chegou ás 12h do dia 27/02/22.
À cineangiocoronariografia , evidenciada trombose em porção proximal de 40% em artéria descendente anterior (ADA) e oclusão em sua porção distal de característica embólica, sem lesões em quaisquer outros territórios vasculares. Realizada tromboaspiração e angioplastia da porção distal, porém sem sucesso em recanalização. Iniciada terapia com inibidor de GpIIb/IIIa venoso em razão da alta carga trombótica por 24h (tirofiban). Pesquisas genéticas para mutação de Fator V, proteínas C e S , além de antitrombina III foram negativas.
Em 28/02/22, apresentou recorrência de dor torácica de forte intensidade, ventilatório-dependente, sendo submetido à nova cineangiocoronariografia , a qual não evidenciou alterações em relação ao exame prévio. Ainda assim, optado por angioplastia de ADA proximal. Em novo ECG, evidenciado supradesnivelamento de segmento ST difuso associado a infra de PR em DII, sugestivo de pericardite, com leucocitose, elvação de marcadores inflamatórios e febre. Ao ecocardiograma (28/02), apresentava fração de ejeção de 40% e pequena quantidade de líquido pericárdico e derrame pleural.
Optado por iniciar manter AAS + clopidogrel e associar colchicina 0,5mg de 12/12h para manejo de quadro de pericardite. Paciente evoluiu com zona elétrica inativa em parede anterior, resolução do supra e dos sintomas, além de recuperação da fração de ejeção (48% em 09/03).