Fundamento: A classificação da Insuficiência Cardíaca (IC) foi aprimorada e, entre as mudanças, a divisão em grupos foi atualizada, criando-se o grupo com fração de ejeção (FE) entre 41% e 49%. Por ser um grupo caracterizado mais recentemente, foi pouco estudado e não tinha suas peculiaridades conhecidas. Este grupo inicialmente identificado como IC com fração de ejeção intermediária, foi atualmente classificado como IC com fração de ejeção levemente reduzida (ICFElr). Neste estudo analisamos as principais características dos seus portadores.
Objetivo: Verificar a incidência, características clínicas e prognóstico dos pacientes com ICFElr em um grande hospital terciário de São Paulo.
Métodos: Foi analisado o prontuário eletrônico de pacientes ambulatoriais atendidos em um hospital terciário de São Paulo com diagnóstico de insuficiência cardíaca (CID-10: I50) em 2017 e seguidos até 31/12/2020. Avaliamos as características clínicas, passagem no PS, internação e mortalidade. Métodos estatísticos: teste U de Mann-Whitney, teste do Qui-quadrado ou Teste Exato de Fischer, análise de sobrevida pela Curva de Kaplan-Meier (p=Log-Rank).
Resultados: Em 2017, 13.121 pacientes com diagnóstico de IC passaram pelo ambulatório do hospital, destes 12.588 tiveram sua FE avaliada, sendo 2027 pacientes (16,1%) com FE entre 41% e 49% (ICFElr). A idade média deste grupo foi de 63,8±13,5 anos, predominantemente do sexo masculino (63,2%). As etiologias mais frequentes foram a isquêmica (37,1%), idiopática (31,2%) e hipertensiva (15,5%). As comorbidades mais frequentes foram a fibrilação atrial (20,6%), diabetes mellitus (18,9%) e infarto do miocárdio (IM) prévio (17,8%). No seguimento, 408 pacientes (20,1%) morreram, sendo a mortalidade menor do que na ICFEr (26,5%) e maior do que na ICFEp (18,4%). A presença de comorbidades aumentou significativamente o risco de morte (p<0,001): FA: 2,8 (2,4-3,3), DM: 2,9 (2,4-3,4), IM prévio: 1,6 (1,3-1,9), Anemia: 3,0 (2,3-3,9), Doença renal crônica (DRC): 4,0 (3,4-4,6). Na análise do tratamento entre os pacientes que receberam prescrição de carvedilol, observou-se que aqueles que receberam a dispensação de carvedilol 25 mg tiveram mortalidade menor do que aqueles que receberam 6,25 mg.
Conclusão: Os pacientes com ICFElr são predominantemente do sexo masculino, apresentam frequentemente fibrilação atrial, diabetes e história prévia de infarto do miocárdio. A mortalidade foi intermediária entre aqueles com ICFEp e ICFEr. O tratamento com doses-alvo de carvedilol foi associado com melhor prognóstico.