Introdução: A dissecção espontânea da artéria coronária (SCAD) é uma dissecção epicárdica não aterosclerótica, traumática ou iatrogênica. A fisiopatologia ainda não está completamente elucidada, mas está relacionada a fatores desencadeantes como estresse emocional, físico ou gravidez. Ocorre por formação de hematoma intramural ou ruptura intimal que obstrui a artéria coronária, causando infarto agudo do miocárdico, sobretudo em mulheres jovens (< 50 anos). A descrição demográfica, clínica e angiográfica do SCAD numa coorte brasileira é pouco explorada.Objetivo: Avaliar o perfil demográfico, clínico, angiográfico e gatilhos de SCAD em uma população brasileira.Material e métodos: O registro SCALIBUR é um estudo retrospectivo e prospectivo de pacientes com SCAD envolvendo 22 Hospitais no Brasil. Revisão de base de dados do REDcap no período de 2010-2022.Resultados: Houve 183 pacientes com SCAD, com idade média de 50,15 ± 10,56 anos (29 a 84 anos) com incidência prevalente no gênero feminino (85%). Os pacientes apresentavam nenhum ou poucos fatores de risco para doença arterial coronariana, incluindo hipertensão arterial (6%), história familiar de doença coronariana precoce (22,5%), dislipidemia mista (5%) e tabagismo ativo (18%). Dez por cento dos casos de SCAD ocorreram no ciclo gravídico puerperal. A maioria dos casos de SCAD manifestou-se como infarto agudo do miocárdio sem supra-ST, IAMSSST (45%), infarto agudo do miocárdio com supra-ST, IAMCSST (34%) e angina instável (9%). Entre os fatores desencadeantes, presentes em 57,8% dos casos, destaca-se: estressor emocional (21%) e menopausa (16%). A displasia fibromuscular, não investigada sistematicamente, foi observada em poucos casos (7%), gestação (0,5%), puerpério (9%), estressor físico (5,4%), uso de terapia hormonal (3%) e doenças psiquiátricas (2,7%). A artéria descendente anterior foi o vaso mais acometido, seguida pela coronária direita e circunflexa. SCAD tipo II ocorreu em (48,82%).Complicações graves mais frequentes foram choque cardiogênico (3,27%) e parada cardiorrespiratória (1%).Conclusão: Nesta grande coorte brasileira, a SCAD afetou sobretudo mulheres jovens com nenhum ou poucos fatores de risco clássicos para a doença coronária e o gatilho predominante era o estresse emocional. É uma condição subdiagnosticada, mas deve ser considerada no diagnóstico diferencial de infarto agudo do miocárdio em mulheres jovens. Possui fatores de risco próprio, condições associadas, diferentes implicações diagnósticas, terapêuticas e prognósticas em comparação com a doença coronária aterosclerótica.