Introdução: Alguns psicofármacos podem prolongar o intervalo QT (QT), e sua alteração pode gerar arritmias graves e morte súbita cardíaca. Entretanto, pouco se sabe sobre qual a incidência desse fenômeno em pacientes internados em clínicas psiquiátricas sob uso contínuo dessas medicações. Métodos: Trata-se de um estudo experimental, observacional, do tipo caso-controle, com 200 pacientes, sendo uma parcela deles internados no Hospital São Leopoldo Mandic sob o uso de psicofármacos que podem alterar o QT, que constituíram o grupo caso, e parte na Santa Casa de Araras e Clínicas Araras, que formaram o grupo controle, sem utilização deste tipo de medicação, a fim de observar qual a prevalência do alongamento do QT corrigido (QTc) na população em questão e a possibilidade de ocorrência associado ao uso desses fármacos. Foram realizados eletrocardiogramas, análise de dados demográficos e clínicos presentes/pregressos, uso regular de fármacos, além das prescrições contidas nos prontuários. Análise estatística: A análise univariada foi utilizada para descrição das variáveis estudadas, e a análise bivariada empregada para variáveis contínuas, sendo utilizado o teste t de Student não pareado. O teste de Levene foi usado para testar se as amostras estudadas apresentavam homocedasticidade. Para o cálculo estatístico, assim como para a construção dos histogramas e box-plots, foi utilizado o programa Jamovi. Resultados: Um alongamento de QTc (⩾450 ms para homens; ⩾460 ms para mulheres) foi observado em 16,49% dos pacientes (n = 36), incluindo 1% dos pacientes (n=2) com um QTc de risco muito alto (⩾500ms). Dentre esses pacientes, 28 (23,73%) eram do G1 (caso) e 3 (4,29%) do G2 (controle). Além disso, foram encontradas anormalidades em 61,5% dos ECGs (n = 115). A prevalência de alongamento de QTc em nosso estudo ocorreu em quantidade superior ao encontrado em países desenvolvidos e em consonância com a maioria dos estudos sobre o assunto. Conclusão: É necessário considerar a avaliação inicial de QTc nesses pacientes previamente à introdução da terapia medicamentosa, realizando uma prescrição cautelosa de psicofármacos na presença de fatores de risco para prolongamento do QTc ou com alteração prévia, a fim de garantir a segurança do paciente e prevenir arritmias cardíacas com risco de vida. Além disso, a prevalência de pacientes psiquiátricos hospitalizados com ECG anormal indica que os ECGs devem ser realizados sistematicamente nessa população.