Introdução: A endocardite infecciosa é caracterizada pela colonização bacteriana da superfície endocárdica, com elevada morbimortalidade. Dentre as etiologias mais comuns, temos o uso de drogas injetáveis, prótese valvar, infecção de cavidade oral e imunossupressão. O objetivo deste relato é evidenciar a possível associação entre endocardite e autohemoterapia - técnica que consiste na coleta de sangue venoso e reinfusão no próprio paciente, via intramuscular, com suposta finalidade de estimular atividade do sistema imune. A autohemoterapia não tem embasamento científico e é proibida pelo Conselho Federal de Medicina. Descrição do caso: Paciente feminina, 20 anos, sem comorbidades prévias, iniciou quadro de mialgia importante e cefaleia. Após procurar serviço médico, dentre outras possibilidades, foi levantado a hipótese de Dengue, sendo colhido sorologia, a qual resultou positiva. Foi orientado medicações sintomáticas e vigilância clínica. Porém, para alívio dos sintomas, a paciente realizou, sem indicação médica, auto-hemoterapia em uma farmácia. Após alguns dias, evoluiu com febre >38ºC e queda do estado geral, buscando atendimento hospitalar. Na admissão, além do quadro descrito, ao exame físico, foi evidenciado lesões de Janeway e petéquias subconjutivais. Considerando história clínica e exame físico, foi levantando hipótese de endocardite infecciosa. Foram solicitados: hemoculturas, as quais positivaram para Staphylococcus aureus; e ecocardiograma (ECO), que demonstrou vegetações em válvulas tricúspide e mitral, confirmando diagnóstico. A Tomografia Computadorizada de tórax, que evidenciou vários êmbolos sépticos pulmonares. Sendo assim, iniciou-se antibioticoterapia endovenosa. No entanto, em ECO de controle, constatou-se sinais de perfuração de cúspide anterior da valva mitral e insuficiência tricúspide importante. Paciente foi então submetida a intervenção cirúrgica, com troca valvar mitral e tricúspide, com prótese biológica. Completou esquema antibiótico após cirurgia, evoluindo com melhora clínica. Conclusão: A prática da auto-hemoterapia tem ganhado atenção recente, porém se trata de procedimento terapêutico sem benefícios cientificamente comprovados ou segurança clínica respaldada por estudos. Sua utilização pode trazer risco à saúde de pacientes e levar a complicações graves, como a endocardite bacteriana.