Introdução: Doença cardíaca carcinóide (DCC) é uma consequência rara e grave do tumor neuroendócrino cuja fisiopatologia está relacionada a substâncias vasoativas secretadas pelo tumor que afetam principalmente as câmaras direitas, com regurgitação tricúspide e pulmonar e com menor frequência a estenose dessas valvas. A discussão do manejo perioperatório é essencial para melhor prognóstico.
Relato de Caso: Homem 21 anos, hígido, apresentava Estenose importante de válvula pulmonar com Insuficiência Cardíaca (IC) sendo submetido à troca cirúrgica por prótese biológica em 2017. Após 6 meses, teve nova descompensação clínica com rastreio etiológico e diagnosticado Tumor neuroendócrino de jejuno com metástases hepáticas. Em Abril/2021, internou novamente por IC perfil B com Ecocardiograma Transtorácico (ECOTT) evidenciando folhetos em valva tricúspide espessados, imóveis, retraídos e sem coaptação (fig.1). O strain global de ventrículo direito (VD) e parede livre foram: -12.4% e -13.6% (fig.2). O RM Cardíaca identificou realce tardio do gadolínio na parede do átrio direito e circunferencial e difusa no VD, compatível com Fibrose endocárdica. Evolui com melhora e reinterna em Setembro/2021 para troca valvar tricúspide. Em âmbito perioperatório, estabeleceu se protocolo para minimizar morbidade cirúrgica e prevenção de crises carcinóides com Octreotide intravenoso contínuo em uma dose de 100µg/h iniciado 12 horas antes, durante a cirurgia e até 72 horas pós operatória. Vasopressina e Epinefrina foram utilizadas na cirurgia e durante 48 horas após para controlar a Síndrome vasoplégica, aumentar a frequência cardíaca e o inotropismo. Em intraoperatório, a utilização de Óxido Nítrico, minimizou resistência vascular pulmonar e consequentemente pós carga de VD. Durante cirurgia, observou se endocárdio espesso e fibroso com ressecção de músculo papilar enviado para patologia (fig.4). Realizado substituição de valva tricúspide com prótese biológica n°25, sem intercorrências (fig.3). Após a cirurgia, apresentou Choque vasoplégico e Lesão renal aguda, com resolução do quadro. Em Alta Hospitalar, assintomático do ponto de vista cardiovascular com função biventricular preservada e próteses valvulares sem alterações estruturais.
Conclusão: Este caso ilustra um manejo perioperatório bem sucedido da DCC, com diagnóstico precoce do envolvimento cardíaco e indicação oportuna da substituição da válvula cardíaca, essenciais para melhora do prognóstico dos pacientes com envolvimento cardiaco por tumores neuroendocrinos.
fig.1 fig.2 fig.3 fig.4