A deterioração de bioprótese é uma complicação tardia comum em pacientes submetidos à troca valvar aórtica cirúrgica. O Implante Percutâneo Transcateter de Válvula Aórtica (TAVI) valve-in-valve (ViV) é uma opção para tratar este problema de acordo com as diretrizes mais recentes. Embora rara, a oclusão coronária é uma complicação potencialmente fatal após a TAVI. Apresentamos um caso em que utilizamos uma técnica denominada BASILICA (laceração intencional de válvula nativa ou bioprótese para prevenir a obstrução iatrogênica da artéria coronária) para prevenir este evento adverso.
Paciente do sexo masculino, 75 anos, hipertenso, ex-tabagista, com dispneia NYHA III. O exame físico revelou sopro sistodiastólico (3/6+) no foco aórtico. Antecedentes patológicos de cirurgia de revascularização em 2007, troca valvar aórtica por bioprótese em 2009, intervenção coronária percutânea com stent no primeiro ramo diagonal em 2012 e 2021 (reestenose intrastent). O ECG mostrou ritmo sinusal, bloqueio atrioventricular de primeiro grau, bloqueio de ramo direito e bloqueio divisional anterossuperior esquerdo. O ecocardiograma transtorácico identificou insuficiência e estenose importantes na bioprótese aórtica (gradiente médio de 41 mmHg e velocidade máxima de 4,5 m/s). Embora o STS Score tenha sido de 6,14% ad euroSCORE II 3,45%, o paciente se recusou a realizar sua terceira cirurgia cardíaca. A angioTC apresentou alto risco de oclusão coronariana (diâmetro médio do seio de Valsalva 24 mm, altura coronariana esquerda 5,5 mm e VTC 3,5 mm). O Heart Team optou pela TAVI com a técnica descrita da BASILICA. O ecocardiograma transesofágico (ETE) intraoperatório mostrou gradiente médio de 37 mmHg e regurgitação aórtica importante devido à rotura no folheto do seio coronário direito. Usamos um fio guia 0.014 conectado a um eletrocautério para perfurar e rasgar o folheto esquerdo da bioprótese. Mais tarde, após a pré dilatação, finalmente implantamos uma biopróteseSapien 3 (Edwards Lifescience) #20 seguida de pós-dilatação em maior pressão com um balão #22 não complacente. Ao final do procedimento, o ETE mostrou gradiente médio de 12 mmHg e nenhum vazamento paravalvular oucentral. Apesar do risco, não ocorreu a oclusão do óstio da coronária esquerda. O paciente permaneceu por 2 dias na UTI devido ao aumento do intervalo de RP, o qual foi mantido conforme evidenciado no holter 24 horas, e teve alta hospitalar 3 dias após o procedimento.
Concluiu-se que a técnica BASILICA é uma alternativa factível aos pacientes candidatos à TAVI ViV com alto risco de oclusão coronariana.