Introdução: Na pandemia de SARS-CoV-2 manifestações cardiovasculares também são descritas, em particular o desenvolvimento de miocardite. Anormalidades pró-trombóticas estão emergindo como complicações em pacientes com covid-19. Neste relato de caso, abordaremos tanto as consequências de um estado pró-inflamatório como o de hipercoagulabilidade causado pelo covid-19.
Relato de Caso: Paciente com antecedente de pneumonia viral por coronavírus no mês anterior, sem antecedentes cardiovasculares prévios, deu entrada com dispneia, edema de membros inferiores e estertores pulmonares, em anasarca, com terceira bulha em ausculta cardíaca. Ecocardiograma evidenciou fração de ejeção 34%, hipocinesia difusa e hipertrofia excêntrica importante de ventrículo esquerdo, pressão de artéria pulmonar de 50 mmHg, imagem de trombo medindo 1,6 x 1,4 cm. Realizado a seguir angiotomografia evidenciando tromboembolismo pulmonar (TEP) bilateral subagudo. Troponina positiva, iniciado tratamento para insuficiência cardíaca (ICC) e anticoagulação plena com melhora parcial, tendo melhora clínica expressiva com início de corticoterapia. Paciente atingiu alvo terapêutico, ausência de congestão, boa perfusão periférica, eupneica em condições clínicas de alta para acompanhamento da nova insuficiência cardíaca, relacionada possivelmente ao vírus SARS-CoV-2 após exclusão de outras etiologias.
Discussão: A miocardite é uma doença inflamatória caracterizada por infiltrados inflamatórios e lesão miocárdica sem causa isquêmica, tendo como segunda etiologia mais comumente vista a pós viral. A apresentação da miocardite permanece variável, podendo apresentar-se como sintomas leves a insuficiência cardíaca aguda e, até mesmo, sinais de miocardite fulminante com febre, hipotensão e má perfusão periférica. Diagnósticos diferenciais devem sempre ser levados em consideração. O vírus SARS-CoV-2 tem sido avaliado como possível causador de um estado hipercoagulável que, associado a lesões endoteliais e estase de pacientes internados, contribuem para mecanismos pró-trombóticos. Em uma recente revisão sistemática, microtrombos foram frequentemente observados na análise histopatológica da população com COVID-19.
Conclusão: As complicações trombóticas são frequentes no COVID-19 e contribuem para morbidade e mortalidade. Neste estudo, verificou-se a disfunção miocárdica possivelmente como consequência de complicações relacionadas ao SARS-CoV-2 com sequelas de difícil reversão, com impacto na qualidade de vida da paciente e acentuadas por demora em diagnosticar miocardite pos-covid-19.
