Introdução: A erosão esternal por aneurisma de aorta ascendente é uma condição rara, e a via de acesso torna a correção cirúrgica desafiadora.
Método: Relatamos dois casos de pacientes do sexo masculino, de 61 (paciente 1) e 58 anos (paciente 2), com clínica similar de desconforto torácico, tosse e dispneia. Na investigação, a angiotomografia revelou aumento de mediastino com volumoso aneurisma sacular da aorta ascendente com erosão do esterno (medindo 10,2 cm e 10,0 cm, respectivamente, no maior diâmetro). No paciente 1, o aneurisma ainda acometeu a origem do tronco braquiocefálico, com envolvimento das artérias subclávia e carótida comum direitas. No paciente 2, o aneurisma exibia extenso hematoma parietal, acometendo a origem dos ramos supraórticos. Ambos foram encaminhados para hospital de referência com proposta cirúrgica.
Optou-se pela realização, em primeiro tempo, de cirurgia de debranching de ramos supraórticos com ligadura da parte proximal das artérias subclávia direita e carótida comum esquerda. Após uma semana, no segundo tempo, foi realizada a correção definitiva. Utilizando duas linhas arteriais paralelas no circuito de circulação extracorpórea (CEC), perfundiu-se o encéfalo a partir da região cervical e as vísceras abdominais e medula espinhal a partir da artéria femoral direita. A linha venosa foi instalada por via percutânea via veia femoral direita. Após o início da CEC, um balão de acomodação inserido pela artéria femoral esquerda foi insuflado na altura da aorta torácica descendente. Antes da realização da esternotomia mediana, foi realizado clampeamento da artéria carótida comum direita e ligadura da artéria subclávia esquerda. A partir dessa sequência de procedimentos, foi possível isolar o coração, a aorta ascendente e o arco aórtico, permitindo a esternotomia sem exsanguinação do paciente, contudo mantendo a perfusão cerebral, visceral e medular independentes. Após a esternotomia e a entrada no aneurisma, realizou-se a proteção miocárdica e troca da valva aórtica, aorta ascendente e arco aórtico e pontes para os troncos supra-aórticos. As angiotomografias pós-operatórias de controle foram realizadas não evidenciando complicações como leaks ou tromboses das derivações supra-aórticas. Um dos pacientes apresentou paresia do nervo laríngeo recorrente sendo acompanhado por terapia fonoaudiológica.
Conclusão: A perfusão independente cerebral, medular e visceral é estratégia cirúrgica adequada para o manejo de aneurismas com erosão esternal.