Introdução
Por sua elevada disponibilidade, o eletrocardiograma (ECG) é frequentemente o exame inicial para detectar ou descartar um infarto do miocárdio (IM) prévio, classicamente através da identificação de ondas Q patológicas, mas seu desempenho diagnóstico é limitado na coronariopatia crônica.
Mais recentemente, a fragmentação do complexo QRS (fQRS) tem sido considerada uma marca de alteração da despolarização ventricular causada por uma cicatriz miocárdica em diferentes cardiopatias. A fQRS engloba vários padrões de RSR' na ausência de um bloqueio de ramo típico: onda R’, entalhe no nadir do S ou mais de um R' em 2 derivações contíguas.
Métodos
Estudo retrospectivo, observacional, unicêntrico. A amostra foi obtida através de análise de prontuários com registro de diagnóstico clínico de infarto do miocárdio que realizaram RMC para avaliação de viabilidade miocárdica posterior à data do IAM. Foram excluídos os que não apresentaram realce tardio com padrão isquêmico na RMC e aqueles cuja RMC revelou outro diagnóstico que não infarto ou não possuía qualidade satisfatória da imagem. Também foram excluídos os pacientes com relato de uma nova síndrome coronariana aguda no intervalo entre o ECG disponível e a realização da RMC.Os ECG realizados após 7 dias do infarto e com intervalo máximo de 1 ano da RMC foram analisados por um avaliador com vasta experiência em eletrocardiografia quanto à presença de fragmentação do complexo QRS e de onda Q patológica e a localização do infarto.
Resultados
A identificação convencional do infarto através da presença de onda Q patológica ocorreu em 174 dos 247 pacientes incluídos (70,4%). A fragmentação do complexo QRS foi identificada em 107 dos 247 pacientes incluídos (43,3%).
No subgrupo de 128 pacientes em que a RMC foi analisada quanto à localização do infarto, observou-se maior prevalência da fQRS nos infartos predominantes em paredes lateral e anterior.
Gráfico 1 – Prevalência da fQRS de acordo com a parede mais acometida pelo infarto
Nesse mesmo subgrupo, a prevalência da fQRS foi significativa mesmo nos infartos menores.
Gráfico 2 – Prevalência da fQRS de acordo com os quartis de massa de fibrose na RMC
Conclusões
Esse estudo revelou uma prevalência significativa da fQRS em pacientes após a fase aguda do infarto, mesmo naqueles com menor massa de fibrose. Embora a amostra analisada de infartos laterais seja ainda limitada, a elevada prevalência da fQRS pode ser um achado relevante, considerando a baixa sensibilidade dos critérios clássicos de identificação de infarto lateral no ECG.