Introdução: Existem muitos escores pré-operatórios que predizem a mortalidade do paciente em cirurgia cardíaca. No entanto, há uma demanda para definir os fatores que interferem nos períodos intra e pós-operatório desses pacientes. Assim, a troponina mostra-se um marcador promissor na avaliação do risco cardiovascular de mortalidade. Objetivo: Avaliar a acurácia dos níveis séricos de troponina cardíaca nas primeiras 24 horas versus nível sérico de lactato como biomarcador pós-operatório de mortalidade relacionada à cirurgia cardíaca. Métodos: Coletamos prospectivamente dados consecutivos de pacientes adultos submetidos à cirurgia cardíaca entre dezembro de 2018 e outubro de 2021 em um hospital do Sistema Único de Saúde do Nordeste do Brasil. A variável de desfecho foi a mortalidade cirúrgica. O pico de troponina I e lactato foram medidos em 24 horas de pós-operatório. A precisão na predição da mortalidade cirúrgica foi avaliada com a AUROC e a comparação das curvas ROC foi realizada pelo método DeLong. Resultados: Foram incluídos 1.341 pacientes com mediana de idade de 57,0 (46,0 – 66,0), a maioria homens (53,9%), a mediana da Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo (FEVE) foi de 60% (49,0 – 67 ,0) e a mortalidade prevista mediana medida pelo EuroSCORE II foi de 1,2% (0,8 – 2,0). A mortalidade da cirurgia foi de 61 (4,5%). Entre esses pacientes, a mediana de lactato foi de 4,36 (2,89 – 8,63) mg/dL versus 3,20 (2,40 – 4,41) mg/dL nos que não morreram (p < 0,001) e a troponina mediana foi de 7,52 (2,50 – 14,93) ng/dL versus 3,22 (1,47 – 7,15) (p = 0,001). No modelo multivariado, permaneceram como preditores independentes de mortalidade: idade, níveis de troponina e lactato, noradrenalina e insuficiência ventricular direita. Na avaliação da acurácia, a AUROC do nível de troponina foi de 0,65 (IC 0,55 – 0,72; p < 0,001) e o de lactato foi de 0,66 (IC 0,57 – 0,74; p < 0,001). Conclusão: O pico de troponina nas primeiras 24 horas após a cirurgia cardíaca foi um preditor independente de mortalidade em curto prazo.