INTRODUÇÃO: A dissecção coronária espontânea é um evento pouco frequente, com alta mortalidade e mais usualmente encontrada em mulheres no período gestacional, puerperal, próximo à menopausa e em homens jovens. Geralmente acomete pacientes com ausência de fatores de risco clássicos para doença aterosclerótica. A fisiopatologia ainda é incerta, porém parece estar relacionada a uma disfunção endotelial decorrente de uma reação inflamatória da camada média dos vasos. DESCRIÇÃO DO CASO: Paciente feminino, 46 anos, sem fatores de risco clássicos para aterosclerose, sem antecedentes cardiovasculares prévios. Chegou no Pronto Socorro com quadro de dor precordial inédita, opressiva, de forte intensidade. Eletrocardiograma evidenciou ritmo sinusal, infradesnivelamento do segmento ST e inversão da onda T na parede anterior. Optado por cateterismo cardíaco de urgência que revelou imagem sugestiva de dissecção coronária extensa envolvendo o primeiro grande ramo Diagonal, que apresentava fluxo TIMI III no momento do procedimento. Visto melhora da dor, optado por tratamento medicamentoso inicial. Paciente evoluiu bem clinicamente, apesar da documentação de elevação enzimática e déficit contrátil regional ântero-látero-apical inicial. Recebeu alta após 7 dias de internação e permaneceu assintomática no acompanhamento ambulatorial. Repetida coronariografia após 3 meses que identificou ausência de estenoses coronárias com melhora completa da imagem de dissecção e recuperação da contratilidade de ventrículo esquerdo. Paciente encontra-se estável, assintomática e sem novos eventos um ano após quadro inicial. DISCUSSÃO: Ainda não há um consenso quanto a melhor abordagem terapêutica para os pacientes portadores de dissecção coronária aguda. As opções para abordagem inicial são o tratamento clínico medicamentoso, o implante de stents ou a cirurgia de revascularização do miocárdio. Existem riscos maiores que os habituais quando optado pela intervenção percutânea, pois pode ocorrer do material de angioplastia penetrar pela falsa luz e ser expandido nesta, o que acarretaria em oclusão aguda do vaso. Ademais, existe o risco associado a complicações ao longo prazo devido ao implante dos stents coronários. Assim, para pacientes estáveis com fluxo coronariano adequado, o tratamento medicamentoso e observação hospitalar por, pelo menos, 7 dias, mantém-se como uma opção terapêutica prudente e eficaz.