Inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT2i) reduzem a hospitalização por insuficiência cardíaca em pacientes com fração de ejeção preservada. Enquanto isso, as sulfoniluréias e a metformina são os únicos antidiabéticos orais disponíveis na Atenção Primária do Sistema Único de Saúde brasileiro. Este estudo foi planejado para avaliar o efeito dessas medicações na função cardíaca.
Métodos: O estudo ADDENDA-BHS2(Assessment of Dapagliflozin effect on Diabetic Endothelial Dysfunction of brachial Artery-Brazilian Heart Study 2) é um ensaio clínico prospectivo realizado por iniciativa do investigador, unicêntrico, controlado por ativo, aberto, randomizado de fase 4. Pacientes de alto risco cardiovascular com diabetes tipo 2 foram randomizados para um tratamento de 12 semanas com dapagliflozina ou glibenclamida além de metformina, em regimes equivalentes de controle glicêmico. O ecocardiograma foi realizado na randomização e em 12 semanas.
Resultados: Noventa e sete pacientes completaram o estudo, incluindo 61% do sexo masculino, idade mediana de 59(10) anos, FEVE média 62,9%±8. Após 12 semanas, a razão E/e' reduziu significativamente no grupo dapagliflozina, enquanto aumentou no grupo glibenclamida [-0,17(1,9) vs 0,87(2,3); IC 95% -0,15 to 0,56; p=0,001]. As velocidades e' do Doppler tecidual não mudaram significativamente, mas a velocidade E aumentou com glibenclamida [0(19,7) vs 4,0(16,0); IC 95% -0,80 to 5,38; p=0,016]. O índice de massa do VE e o septo interventricular do VE reduziram com dapagliflozina, embora a diferença entre os grupos não tenha alcançado significância estatística [variação do septo interventricular -0.5 (2,0) vs 0 (2,0); IC 95% -0,43 to 0,26; p=0,05]. A fração de ejeção do VE e o strain longitudinal global do VE não diferiram entre os grupos. Quanto à função atrial esquerda, volumes, fração de ejeção e strain do AE não foram significativamente diferentes entre os grupos de tratamento.
Conclusão: Enquanto a dapagliflozina melhora a função diastólica, a glibenclamida piora. Nossos achados sugerem efeitos cardiovasculares negativos da glibenclamida em pacientes de alto risco cardiovascular com diabetes tipo 2, enquanto a dapagliflozina melhora a função diastólica.