Introdução: A participação do médico cardiologista vem aumentando no cuidado de pacientes oncológicos. A atuação da especialidade envolve, entre outras funções, o acompanhamento e avaliação perioperatória de pacientes que se submeterão a intervenções cirúrgicas com proposta curativa ou paliativa.
Descrição do caso: Um homem de 66 anos hipertenso, diabético, com antecedente de infarto agudo do miocárido e angioplastias coronárias e relato de hepatite há 20 anos foi admitido na nossa instituição para investigação de nódulo hepático. Durante a avaliação inicial, foi diagnosticado com estenose aórtica importante (gradiente VE–aorta 40 mmHg) e doença arterial coronaria triarterial sintomática com indicação de revascularização cirúrgica. Apresentava angina CCS 3 apesar do tratamento medicamentoso otimizado. A ressonância de abdome superior evidenciou uma formação nodular localizada na periferia do segmento hepático IVa medindo 3,3 x 2,8 cm, em contato com tributária da veia hepática média, cuja suspeita para lesão neoplásica primária foi confirmada por PET-Scan. A investigação adicional concluiu se tratar de um colangiocarcinoma sem metástases, com indicação cirúrgica. Considerando o alto risco cardiológico pré-operatório, decidimos preparar o paciente com dois procedimentos precursores: (1) quimioembolização da lesão hepática por meio de cateterização superseletiva e administração de 75 mg de doxorrubicina com esferas carreadores de quimioterápico e, a seguir, (2) troca valvar aórtica por prótese biológica com revascularização do miocárdio (ponte de artéria torácica interna esquerda para descendente anterior e ponte de veia safena para artéria marginal esquerda). Os procedimentos transcorreram sem intercorrências. O paciente recebeu alta hospitalar e, cerca de sessenta dias depois, foi submetido a segmentectomia hepática curativa. O paciente segue estável, em acompanhamento cardiológico e oncológico, sem dor torácica.
Conclusão: O caso ilustra a importância da discussão interdisciplinar para a tomada de decisões clínicas, pois a quimioembolização permitiu a contenção da doença oncológica e, assim, o paciente pôde se recuperar da cirurgia cardíaca e se preparar para a cirurgia hepática com proposta curativa.