Introdução: O COVID-19 tem sido um desafio para os sistemas de saúde do mundo. Por se tratar de uma doença com grande espectro clínico e com diferentes níveis de gravidade, é significativa a quantidade de pacientes que persistem sintomáticos apesar de terem passado pelo período agudo da doença. O Covid-19 acomete principalmente o sistema pulmonar, mas o componente cardiovascular também pode ser acometido. Sendo assim, o teste cardiopulmonar de exercício (TCPE) é um exame capaz de avaliar de forma simultânea as respostas cardiovasculares, respiratórias e metabólicas diante do esforço máximo e diferenciar o mecanismo dos sintomas residuais.
Objetivos: Identificar alterações ergoespirométricas nos pacientes pós Covid-19 com necessidade ou não de internação hospitalar.
Métodos: Foram incluídos pacientes maiores de 18 anos que realizaram TCPE de Julho de 2020 a Abril de 2021, de 30 dias até 180 dias do diagnóstico da Covid-19. Estes foram separados em 2 grupos comparativos, internados versus não internados.
Resultados: Excluindo-se pacientes com doenças pulmonares prévias, no total foram avaliados 51 pacientes, com idade média de 43 anos. Dados clínicos como sexo masculino (p=0,008), hipertensão (p=0,006), diabetes (p=0,027), maior índice de massa corporal (p=0,034) e idade (p=0,001) mostram-se relevantes nos pacientes internados. A queixa de dispneia foi prevalente nos 2 grupos. Em relação aos dados com significância estatística no TCPE, comparando internados e não internados, respectivamente: redução do consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo) 26,3 ±5,1 (77% do predito) e 31,6 ±6,5 (85% do predito) (p=0,006); redução do limiar anaeróbio (VO2 L1) 16,0 ±4,2 e 19,0 ±5,1 (p=0,048); e queda da saturação em 31,3% dos internados e 5,7% dos não internados (p=0,025).
Discussão: Dispneia foi uma queixa comum para estes pacientes, independente da necessidade ou não de internação. Aqueles que evoluíram com necessidade de internação apresentaram maior idade e mais comorbidades, podendo inicialmente justificar a redução da capacidade funcional neste grupo. Porém, dados ergoespirométricos em conjunto evidenciam o predomínio de restrição por troca gasosa, evidenciada principalmente pela dessaturação, sem aumento importante da relação VE/VCO2 slope. Mais da metade dos pacientes internados apresentaram limitação da capacidade funcional e o tempo pós covid não foi um fator significativo.
Conclusão: TCPE é uma ferramenta importante na avaliação funcional e da etiologia da dispneia destes pacientes, principalmente para estratificação de candidatos a reabilitação direcionada.