A febre reumática (FR) é uma doença inflamatória, sistêmica e recorrente que pode acometer as articulações, vasos sanguíneos e o coração. Suas complicações podem provocar injúrias aos tecidos pericárdico, miocárdico e endocárdico, levando a necessidade do paciente a realizar a cirurgia de prótese valvar cardíaca. O presente trabalho descreve uma abordagem cirúrgica-odontológica associado a PRF em paciente com alteração cardiovascular e sob manutenção da terapia anticoagulante.
Paciente R.C.P.S., sexo masculino, branco, 46 anos, foi atendido em São Paulo no curso de Cirurgia Bucal para pacientes com comprometimentos sistêmicos, com queixa principal de “dentes moles”, ao exame clínico foi constatado mobilidade grau III dos elementos 18, 17 e 16 associado a lesão de furca. Durante a anamnese, paciente relatou FR, prótese valvar cardíaca, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia, bem como uso de anticoagulante oral Varfarina e Marevan.
Solicitados exames complementares e avaliação do grau de risco cirúrgico do paciente, os resultados dos exames estavam de acordo com os padrões de normalidade.Devido às condições sistêmicas do paciente e o uso da prótese valvar cardíaca, cuidados adicionais foram necessários antes, durante e após os procedimentos. O paciente foi submetido à terapia antibiótica com Amoxicilina 500mg durante 7 dias, e com 2g em uma dose profilática prévia, 1 hora antes da cirurgia, prescrito também dexametasona 4mg por 3 dias e dipirona 1g. A cirurgia foi realizada sob anestesia local utilizando-se mepivacaína com epinefrina 2%, técnica aberta a fim de facilitar a exodontia e a cirurgia de enxerto (Sinus Lift) na região de molares, em única sessão cirúrgica, com duração de aproximadamente 3 horas. Realizado a síntese com fio de nylon e curativo local, de forma tópica, com ácido tranexâmico macerado e soro fisiológico 0,9%. No pós-operatório, paciente apresentou sangramento leve nas primeiras 24 horas, realizado outro curativo local com ácido tranexâmico, assim foi obtido bom controle do sangramento, boa reparação e cicatrização no local da cirurgia. A remoção da sutura foi realizada após 14 dias, sem intercorrências. Desta forma, podemos dizer que o procedimento cirúrgico em pacientes com alterações cardiovasculares múltiplas pode ser realizado de forma eficaz e com segurança, desde que devidamente planejado e cirurgião dentista capacitado.