INTRODUÇÃO: O implante de marcapasso definitivo pode apresentar complicações como pneumotórax, deslocamento de eletrodo, hematomas e perfuração ventricular. Esta última apresenta 0,3 -1% de prevalência, ocorre comumente no ato cirúrgico ou nas primeiras horas, raramente, no pós tardio, sendo de difícil diagnóstico devido apresentação clínica variada.
MÉTODOS: relato de caso: masculino, 86 anos, portador de marcapasso cardíaco bicameral há 10 anos, em 2011, por BAVT, submetido a troca de gerador em 2016 por perda do comando. Em 2021 foi necessário troca de eletrodo com posicionamento em ponta de ventrículo direito, local com melhor limiar de estimulação. O eletrodo antigo, posicionado em região sub-tricuspídea, foi abandonado devido grande aderência. Após 1,5 anos da última intervenção houve perda do comando com necessidade de reimplante, porém, desta vez, posicionado em região septal. Pela idade avançada do paciente e dependência do marcapasso, o eletrodo foi abandonado. Duas semanas após, o paciente evoluiu com dispneia aos médios esforços. Não apresentava alterações ao exame físico e laboratorial. Radiografia de toráx com cabo de marcapasso normoposicionado e ritmo de marcapasso em eletrocardiograma. Ecocardiograma com derrame pericárdico de discreto a moderado volume, sem repercussões hemodinâmicas. Realizado diureticoterapia com resolução dos sintomas e acompanhamento ambulatorial. Paciente retornou em pronto atendimento com quadro clinico semelhante após 3 semanas, estável hemodinamicamente, sem alteração ao exame físico, com ritmo de marcapasso funcionante, porém evidenciado derrame pericárdico de grande volume em radiografia de tórax e ecocardiograma e imagem sugestiva de perfuração miocárdica de ventrículo esquerdo em região apical pelo cabo-eletrodo antigo. Indicado drenagem com saída de grande volume de líquido serohemático sob incisão subxifoidiana mini-invasiva. Realizado a retirada do eletrodo responsável pela perfuração do VD com auxílio de fluoroscopia, sem necessidade de intervenção no local da perfuração. Paciente recebeu alta hospitalar assintomático. O controle tardio com Ecocardiograma e Radiografia de tórax apresentam-se dentro da normalidade.
CONCLUSÃO: A perfuração da parede ventricular por cabo do marcapasso no implante tardio, apesar de rara deve ser aventada, com atenção aos sinais que podem sugerir tal complicação como dor torácica, abdominal superior, ecg com ausência de comando de marcapasso, baixa impedância à interrogação do marcapasso e derrame pericárdico, este último nem sempre presente.