Introdução: Crianças com comunicações cardíacas congênitas não restritivas evoluem com hemodinâmica pulmonar alterada associada a mudanças funcionais e estruturais do leito vascular pulmonar, situação que eleva o risco de instabilidades clínicas no período pós-operatório. Estas instabilidades são genericamente conhecidas como crises de hipertensão pulmonar. Os fatores de risco são variados e pouco se sabe sobre como identificar os pacientes que poderão presentar estes eventos. Objetivo: Investigar, em pacientes pediátricos, no contexto do tratamento cirúrgico, possíveis relações entre hemodinâmica pulmonar e eventos clínicos relevantes no período pós-operatório. Método: Estudo prospectivo, realizado com 40 pacientes, idade de 11 (8–17) meses (mediana e intervalo interquartil), portadores de comunicação interventricular (60%) ou defeito do septo átrio-ventricular (40%), pressão média arterial pulmonar pré-operatória de 48 (34–54) mmHg e considerados de risco para hipertensão pulmonar pós-operatória. Pressões pulmonares e sistêmicas foram verificadas no momento intra-operatório e pós-operatório por meio de cateteres posicionados nas artérias. Os Eventos Cardiorrespiratórios e Hemodinâmicos Relevantes (ECRHR) foram definidos previamente ao projeto como: crises de hipertensão pulmonar, hipotensão sistêmica, instabilidades hemodinâmicas pulmonares e sistêmicas ocorrendo em “clusters” e situações requerendo ressuscitação cardiopulmonar. Resultados: A razão pressão arterial média pulmonar/sistêmica (PAP/PAS) no pós-operatório imediato (média dos 4 primeiros valores obtidos na unidade de terapia intensiva, com intervalos de 2 horas), denominada como PAP/PASPOI, correlacionou-se diretamente com a PAP/PAS registrada logo após a circulação extracorpórea (PAP/PASCC), r = 0,68, p< 0,001. A PAP/PASPOI (0,38 (0,32 – 0,46)) apresentou associação importante com a ocorrência dos ECRHR e foi melhor preditor destes comparada a PAP/PASCC. O hazard ratio associado a PAP/PASPOI > 0,40 foi 5,07 (IC 95% 1,10 - 23,45 p= 0,038). Os ECRHR contribuíram para ventilação mecânica prolongada (p < 0,001) mas não para mortalidade. Conclusão: Padrões de comportamento hemodinâmico foram identificados no início do período pós-operatório e correlacionaram-se com pressões verificadas após a circulação extracorpórea no centro cirúrgico. Este comportamento hemodinâmico inicial foi preditor da ocorrência de ECRHR na unidade de tratamento intensivo, que por sua vez, resultaram em tempo de ventilação mecânica prolongado.