Introdução: A imunoterapia foi uma grande revolução no tratamento oncológico na última decada, sobretudo para o melanoma. O uso dos inibidores de checkpoint imunológico (ICI), entre eles os inibidores de proteína de morte programada-1 (anti-PD1), trouxe grandes incrementos em sobrevida, representando uma mudança de paradigma, entretanto o manejo dos efeitos colaterais imunomediados ainda é um desafio para a equipe multidisciplinar.
Metodologia: Relato de caso clinico e confrontamento dos dados com a literatura atual.
Relato do caso: Paciente masculino, 76 anos, com antecedente de hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, diabetes e doença arterial coronária, diagnosticado com melanoma acral em calcâneo (T4bN2aM1). Iniciou Nivolumabe como primeira linha de tratamento sistêmico, mas antes do início foi submetido a angioplastia coronária (DA – 2 stents e Mg -1 stent). Após a primeira infusão de Nivolumabe evoluiu com ptose palpebral e quadro sugestivo de síndrome miastênica imunomediada. Internado para investigação e tratamento, recebeu pulsoterapia com piora dos sintomas, sendo optado por imunoglobulina, porém durante a primeira infusão, apresentou parada cardiorrespiratória em ritmo de taquicardia ventricular, revertida após 17 minutos sem sequelas neurológicas. Cineangiocoronariografia evidenciou stents pérvios e importante progressão da doença arterial coronariana em comparação ao exame de 6 semanas antes, sendo submetido a nova angioplastia (DA – 2 stents, CD – 1stent e balão na Dg e VP). Ressonância cardíaca evidenciou função biventricular preservada e realce tardio epicárdico anterolateral basal, sugestivo de processo inflamatório prévio, podendo representar cardiomiopatia inflamatória prévia (miocardite) ou mesmo cardiotoxicidade. Dados da literatura demonstram que os ICI induzem aumento de células T CD8+ na placa aterosclerótica, levando a uma mudança de predominância de macrófagos para linfócitos nas placas ateroscleróticas , e como consequência, as células T ativadas favorecem a produção de citocinas pró-aterogênicas, contribuindo para o crescimento e a desestabilização da placa aterosclerótica. Conclusão: O aumento crescente da aplicabilidade dos ICI no cenário oncológico torna de extrema importância o entendimento da toxicidade relacionada a tais medicações. O perfil de efeitos colaterais imunomediados podem afetar diretamente o sistema cardiovascular, culminando no aumento de morbimortalidade em pacientes previamente frágeis devido ao diagnóstico oncológico e demonstrando a importância da vigilância ativa desses pacientes.