Introdução: Derrame pericárdico é a manifestação mais comum das pericardiopatias. As suas principais etiologias incluem infecções virais, bacterianas, fúngicas, neoplasias, doenças auto-imunes, Chagas agudo, tuberculose e distúrbios metabólicos, tais como mixedema e uremia.
Relato do caso: Paciente masculino, 71 anos, previamente hipertenso e hipotireoideo natural e procedente da Bahia. Iniciou quadro de adinamia, dispneia progressiva (CF III NYHA), perda ponderal de 10 kg em 3 meses, hepatoesplenomegalia e icterícia, em janeiro 2022.
Atendido em pronto socorro em 03/2022 apresentando, ao ecocardiograma, derrame pericárdio volumoso, com lâmina de 43 mm e sinais de tamponamento cardíaco. Realizada drenagem de Marfan, com saída de 1100 ml de líquido de aspecto enegrecido. A análise do líquido mostrou aspecto hemorrágico, 42 células (64% monomorfonucleares), DHL de 2591, ADA 32,83, com culturas para bactérias e fungos negativas. Na investigação laboratorial, flagrou-se pancitopenia, hipoalbuminemia, inversão relação albumina/globulina e hiperbilirribinemia, com predomínio de bilirrubina direta. Evoluiu com picos febris diários.
Pela associação de grande hepatoesplenomegalia e achados laboratoriais foi aventada hipótese de leishmaniose visceral (calazar), que foi ratificada pela biópsia pericárdica, com evidência da presença de formas amastigotas do protozoário na coloração Giemsa.
Iniciado tratamento com anfotericina B lipossomal com subsequente melhora laboratorial e clínica. Então paciente foi transferido a hospital referência em doenças tropicais.
Conclusão: Na literatura não há relato de derrame pericárdico por Calazar em adultos. Leishmaniose é uma doença ainda negligenciada, com importante prevalência em áreas endêmicas no Norte e Nordeste do brasil e é a segunda com maior mortalidade dentre as doenças tropicais. Esta possiblidade diagnóstica deve ser lembrada diante de pacientes com derrame pericárdico, hepatoesplenomegalia e pancitopenia.