FUNDAMENTOS: Doenças cardiovasculares representam 30% das mortes no Brasil. Rastrear fatores de risco cardiovascular e lesão em órgãos-alvo precocemente mostra-se substancial para reverter o cenário de alta morbimortalidade. OBJETIVO: Avaliar fatores de risco cardiovascular e lesão de órgãos-alvo subclínicas em uma população jovem e aparentemente saudável assistida em uma Unidade da Estratégia Saúde da Família. MÉTODOS: Estudo populacional transversal para avaliação do risco cardiovascular em adultos de 20-50 anos residentes na área de abrangência de uma Unidade da Estratégia Saúde da Família. Um total de 632 indivíduos foram avaliados (40% do sexo masculino; idade média de 36 ± 9 anos). Foram registrados dados sociodemográficos, antropométricos e fatores de risco cardiovascular tradicionais. Todos foram submetidos à aferição da pressão arterial (PA) de consultório e calculada a pressão de pulso (PP). O índice tornozelo-braquial (ITB) também foi calculado após as medidas da PA nos 4 membros. A mediana do ITB foi de 1,14 [1,08-1,22, utilizada como ponto de corte para definir mudanças precoces. Todos os participantes foram submetidos ao eletrocardiograma para cálculo do Índice de Sokolow-Lyon (ISL) e do Índice de Voltagem de Cornell (IVC) para diagnóstico de hipertrofia ventricular esquerda. Consideramos a mediana do ISL (20mm) e do IVC (11mm) como ponto de corte para alterações precoces. RESULTADOS: A prevalência de hipertensão foi de 16%. A mediana [IQR] da PP do consultório foi de 46 [39-52] mmHg. Elevada PP (> 60 mmHg) de consultório foi identificada em 64 participantes, sendo mais frequente em homens, obesos, com circunferência do pescoço aumentada e ITB mais baixo (1,07 vs 1,16, p<0,001). Também foi associado ao maior índice de voltagem: ISL 21,9 vs 19,8, p=0,04 e IVC 13,4 vs 7,1, p=0,03. Indivíduos com ITB diminuído são mais obesos com circunferência do pescoço menor (10 vs 5%, p=0,03). Eles também apresentaram PA sistólica (125 vs 119mmHg, p<0,001) e PP (49 vs 43mmHg, p<0,001) mais altas. Um total de 362 eletrocardiogramas foram realizados. O ISL aumentado foi mais frequente em homens, mais jovens e com sobrepeso, além de maior prevalência de hipertensão e PP mais alta. Aqueles com IVC aumentado são mais frequentemente do sexo masculino, obesos com níveis de PA mais elevados. CONCLUSÃO: Nesta população jovem, alterações precoces em lesão subclínica de órgãos-alvo já identificam um perfil de risco cardiovascular mais elevado, indicando a importância da implementação de medidas de prevenção primária para reduzir esse risco.