Introdução: A obesidade está associada a um alto risco cardiovascular (CV), porém ainda não está claro se a obesidade metabolicamente saudável (MS) possa ter um menor risco CV ou se é apenas uma fase mais precoce da doença.
Objetivo: Avaliar a prevalência e os fatores de risco CV associados à obesidade MS ou não em uma população jovem assistida por uma unidade de Estratégia Saúde da Família (ESF).
Métodos: Trata-se de um estudo populacional transversal para avaliação de risco CV em adultos entre 20-50 anos de uma unidade de ESF no Rio de Janeiro. Dados demográficos, antropométricos e fatores de risco CV foram registrados. Todos foram submetidos ao protocolo padrão: 2 aferições da pressão arterial de consultório, Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA), avaliação laboratorial (perfil lipídico e glicídico) e função renal (creatinina e albuminúria). Foram aplicados questionários de rastreio de apneia obstrutiva do sono (AOS): STOP-BANG e Escala de Sonolência de Epworth.
Obesidade foi definida como IMC ≥ 30 kg/m2 e os MS são aqueles que têm menos de 3 dos seguintes critérios: hipertensão arterial, diabetes, colesterol total ≥ 200 mg/dL, HDL < 40 mg/dL em homens e 50 mg/dL em mulheres, triglicerídeos > 150 mg/dL e circunferência abdominal aumentada.
Resultados: Foram avaliados 632 indivíduos (60,4% do sexo feminino, média de idade 36,6 ± 9,0 anos). A prevalência de obesidade foi 25,5% (161 indivíduos), dos quais 117 (72,7%) indivíduos foram classificados como MS.
Obesos são mais velhos, com maior prevalência de sedentarismo (51% vs 41%, p=0,03), hipertensão arterial sistêmica (HAS) (44% vs 19%, p<0,001), dislipidemia (50% vs 36%, p=0,002) e diabetes (7% vs 2%, p=0,001) com pressão arterial sistólica mais elevada no consultório e na MRPA, além da frequência cardíaca mais elevada. Apresentaram também pior perfil lipídico além de alto risco para AOS avaliados pelos 2 questionários.Os indivíduos classificados como obesos MS comparados aos não MS são significativamente mais jovens e fumam menos. Apesar de obesos, têm menor IMC (33,6 vs 35,2 kg/m2, p=0,02) e circunferência abdominal (102 vs 110 cm, p=0,03), com menor pressão arterial diastólica e menor frequência cardíaca. Como esperado têm menor prevalência de HAS e melhor perfil metabólico. Esses indivíduos apresentam menor risco de AOS.
Conclusão: A obesidade MS foi mais prevalente nessa população jovem e parece ter um menor risco CV, no entanto, não está claro se esses indivíduos mais jovens e menos obesos estão apenas em um estágio inicial da doença.