Introdução: A maioria das cardiopatias congênitas é corrigida por meio de cirurgia sob circulação extracorpórea (CEC). A reação inflamatória sistêmica deflagrada pela CEC leva a disfunção de múltiplos órgãos, algumas vezes associada à aumento de morbidade e taxas de mortalidade.
Objetivo: Analisar, comparativamente, parâmetros inflamatórios perioperatórios entre pacientes com comunicação interventricular (CIV) e comdefeito septal atrioventricular (DSAV).
Método: Vinte e seis pacientes foram incluídos, quinze com CIV e onze com DSAV, com idade entre 4 e 24 meses. Contagens de leucócitos e plaquetas, volume plaquetário médio e nível plasmático da proteína C-reativa (PCR, imunoturbidimetria) foram analisados na situação basal, 24h, 48h e 72h após a operação. O nível sérico da interleucina 6 (IL-6) foi determinado por ensaio imunoenzimático (immunoblotting) na condição pré-operatória (basal), 4h e 24h após a cirurgia. Variáveis intraoperatórias foram computadas, incluindo o tempo de CEC e o tempo de anóxia. No período pós-operatório, curvas foram construídas para a temperatura corpórea, pressão arterial sistêmica e saturação periférica de oxigênio.
Resultados: Durante a operação, a duração da CEC e o tempo de anóxia foram mais longos no grupo DSAV comparativamente aos indivíduos com CIV (p<0,001). Após a operação, houve diminuição no número de plaquetas circulantes, enquanto a contagem de leucócitos, o nível de PCR e o volume plaquetário médio se elevaram (p<0,001 vs. situação basal para todos). Não foram observadas diferenças entre os grupos. A IL-6 aumentou em relação à situação basal, com níveis mais altos observados 4 hs após a cirurgia (p<0,001). O aumento da IL-6 foi significantemente mais expressivo em indivíduos com DSAV comparados àqueles com CIV (p=0,011). Níveis de IL-6 obtidos 24 hs após o término da cirurgia correlacionaram de maneira positiva com o tempo de CEC (R2=0,388) e com o tempo de anóxia (R2=0,536), mas tal correlação foi demonstrada de forma mais contundente no grupo DSAV, onde tempos cirúrgicos mais longos foram necessários. Não foram observadas diferenças entre os grupos com relação a temperatura corpórea, pressão arterial sistêmica e saturação de oxigênio.
Conclusão: Com base nestas observações, conclui-se que a reação inflamatória após a CEC tende a ser mais pronunciada em indivíduos com DSAV comparados àqueles com CIV, sendo diretamente relacionada à duração do procedimento cirúrgico corretivo (tempos de CEC e de anóxia). Estes dados são relevantes para a melhor supervisão assistencial destes pacientes no período pós-operatório.