Introdução: Poucos trabalhos nacionais têm investigado comportamentos de risco cardiovascular em pacientes tabagistas no serviço de saúde suplementar, especialmente na atenção terciária em que é possível maior abertura e motivação para a mudança considerando a percepção concreta do paciente sobre as consequências de um estilo de vida pouco saudável.
Objetivos: Caracterizar e comparar os fatores de risco modificáveis conforme proposto pelo estudo INTERHEART entre tabagistas cardiopatas e não cardiopatas hospitalizados na saúde suplementar.
Métodos: Estudo transversal exploratório aprovado pelo Comitê de Ética (CAAE nº 44662921.0.0000.0060) em que foram analisados dados coletados retrospectivamente em prontuário de 329 pacientes avaliados nos últimos 5 anos pelo serviço de psicologia de um hospital privado na cidade de São Paulo, alocados em grupo cardiopatas (n=211) e não cardiopatas (n=118).
Análise estatística: Foram realizadas análises descritivas e inferenciais por meio de testes não paramétricos, testes de Qui-Quadrado e Exato de Fisher, utilizando o R (R Core Team (2021)) adotando p<0,05.
Resultados: Os pacientes avaliados apresentavam gênero masculino (68.7%), M=58.7 anos (±13.3), casados (63.5) com ensino superior (70.8%). Além do tabagismo, foram prevalentes o sedentarismo (73.2%), hipertensão (67.2%) e a dislipidemia (50.5%). A distribuição dos demais fatores também foi expressiva, a saber: etilismo ocasional (35%) ou crônico (18.5%), diabetes mellitus (31%), obesidade abdominal (26.7%) e transtorno depressivo (13.1%).
Houve diferença (p<0.001) entre os grupos no que diz respeito a hipertensão, diabetes e dislipidemia, sendo mais prevalentes nos cardiopatas, em que a média geral de fatores de risco também foi maior nesse grupo (p<0.001), conforme apresenta o gráfico 1. Além disso, apresentaram maior tempo de internação (p<0.001) e taxa de reinternações comparado aos não cardiopatas. É possível que aspectos de personalidade tipo A e tipo D exploradas pela psicocardiologia e elevado nível socioeconômico, além do estresse e escassez de estímulos reforçadores adaptativos contribuam para a manutenção dos fatores de risco, sendo necessários estudos futuros nessa direção.
Conclusão: Os tabagistas cardiopatas apresentam maior número de comportamentos de risco modificáveis, carecendo de intervenções mais abrangentes para uma prevenção secundária eficaz no contexto de saúde suplementar.
Gráfico 1. fatores de risco modificáveis entre os grupos.