Introdução: Conforme a população de transplantes renais prevalente aumenta, há uma necessidade crescente de quantificar o risco das condições médicas para minimizar complicações. Os eventos hemorrágicos são uma causa de hospitalização e contribuem para a morbimortatalidade destes pacientes.
Objetivo: Avaliar complicações perioperatórias por sangramento devido ao uso de dupla antiagregação plaquetária (DAPT) nos pacientes transplantados renais.
Metodologia: Pacientes submetidos à transplante renal entre janeiro de 2019 a maio de 2021 foram incluídos (n= 372) e divididos em 3 grupos: grupo controle que estava sem terapia antiplaquetária (n= 230); pacientes com antiagregação perioperatória apenas com ácido acetil salicílico – AAS (n= 123); e pacientes com DAPT perioperatória – AAS e clopidogrel (n= 19). O desfecho primário foi a taxa de sangramento em pacientes com terapia antiplaquetária em comparação com pacientes sem terapia antiplaquetária. Os desfechos secundários incluíram localização e momento do sangramento, infarto agudo do miocárdio (IAM) pós-sangramento, necessidade de transfusão perioperatória, reintervenção cirúrgica, explante renal e mortalidade.
Resultados: Pacientes que utilizavam DAPT tinham idade média de 59,63±6,94, apresentavam mais diabetes insulino-dependente e eram todos hipertensos (P> 0,002), dados significativamente maiores comparados os demais grupos. Esses pacientes sangraram significativamente mais (P> 0,005), principalmente no sítio cirúrgico (64,7%); 35,3% dos pacientes necessitaram de reintervenção cirúrgica (p= 0,0013). Neste estudo, a maioria dos eventos hemorrágicos (73,6%) ocorreu até uma semana após o transplante e 80% necessitaram de transfusão sanguínea (p= 0,0001).
Conclusão: O transplante renal pode ser realizado com segurança sem interromper a terapia com AAS perioperatória e anticoagulação profilática. Há um risco aumentado de sangramento com necessidade de transfusão sanguínea e reintervenção cirúrgica quando o paciente está em uso de DAPT, porém sem aumento de IAM, explante renal e mortalidade a curto prazo.