INTRODUÇÃO: Os tumores neuroendócrinos (TNE) são neoplasias raras (0,12 a 0,21%) encontrados geralmente no trato gastrointestinal (74%) e brônquios (25%), e alguns subtipos secretores de hormônios podem causar, por exemplo, a Síndrome Carcinoide (SC).
MÉTODOS: As informações foram obtidas por revisão de prontuário e literatura.
RELATO DE CASO: Masculino, 80 anos, hipertenso, diabético, hipotireoideo e coronariopata, com queixa de perda de peso, diarreia crônica, descontrole pressórico e episódios esporádicos de flush e taquicardia.
Durante a investigação, a ultrassonografia e a ressonância magnética (RM) de abdome evidenciaram nodulações hepáticas sugestivas de neoplasia e, posteriormente em biópsia, confirmou-se TNE bem diferenciado de íleo estágio IV com metástases hepáticas. O ecocardiograma transtorácico (ECOTT) mostrou função sistólica do ventrículo esquerdo preservada e insuficiência valvar mínimas. Foi iniciada quimioterapia mensal com Lanreotide.
Em 2022, durante internação hospitalar por descompensação cardíaca, novo ECOTT mostrou dilatação moderada das cavidades direitas, espessamento dos folhetos da valva tricúspide com mobilidade reduzida e coaptação incompleta levando a insuficiência importante, sugestiva de SC. Devido ao quadro grave e avançado, optou-se por tratamento clínico.
DISCUSSÃO: As manifestações clínicas da SC, como o flushing e a diarreia crônica, resultam da secreção de substâncias vasoativas pelas lesões hepáticas. Devido a alta prevalência de lesões metastáticas hepáticas, opta-se inicialmente por tomografia ou RM de abdome. Todavia, o diagnóstico é confirmado pelo aumento da excreção urinária do subproduto da serotoninae pelo anatomopatológico.
A cardiopatia carcinoide (CC) resulta do depósito de tecido fibroso, espessamento endocárdico nas câmaras direitas e retração dos folhetos da valva tricúspide, levando a regurgitação (90%) e a insuficiência cardíaca direita. A triagem da CC ainda é controversa, mas recomenda-se ECOTT periódico em pacientes com SC.
Os análogos da somatostatina e terapia antitumoral podem reduzir a progressão da cardiopatia carcinoide, mas ainda sem evidências quanto ao dano valvar. Assim, a cirurgia valvar é a única terapia efetiva para a CC e deve ser considerada na disfunção valvar sintomática ou no declínio da função ventricular direita, cuja doença metastática esteja bem controlada.
CONCLUSÃO: Apesar de pouco prevalente, o diagnóstico da CC é fundamental para se definir precocemente a terapêutica adequada ao perfil do paciente, a fim de se evitar sintomas e internações recorrentes.