FUNDAMENTOS: Pacientes pediátricos com cardiopatias congênitas, com grandes comunicações entre a circulação pulmonar e a sistêmica, são alvo de infecções respiratórias de repetição. No momento da indicação cirúrgica, o paciente está fora de estado infeccioso de qualquer natureza. Entretanto, pode ter passado por infecções de natureza viral. A detecção de vestígios destes agentes denunciaria exposição sucessiva, o que poderia implicar em alterações nas vias aéreas, com impacto em variáveis pós-operatórias como o tempo de ventilação mecânica e de internação.
MÉTODOS: Foram estudados pacientes pediátricos com idade entre 1 mês e 3 anos, com grandes defeitos septais cardíacos, liberados para cirurgia cardíaca corretiva. Foi coletado material de nasofaringe antes da cirurgia, e de traqueia no momento da intubação no centro cirúrgico. O material foi avaliado por reação de polimerase em cadeia em tempo real (RT-PCR), sendo investigados 22 tipos de vírus respiratórios.
ANÁLISE ESTATÍSTICA: dados descritivos apresentados como valores absolutos e porcentagens, mediana e percentis 25 e 75. Para comparações entre grupos: teste de Mann-Whitney e Qui-quadrado.
RESULTADOS: Foram analisados 60 pacientes, 58 com material suficiente para análise em nasofaringe e 55 em traqueia. Em nasofaringe, 37 pacientes (64%) tiveram resultado positivo para material genético dos vírus pesquisados. Vinte pacientes tiveram resultado positivo para apenas um vírus, e 17 para mais de um. Em 55 amostras de traqueia, 21 (38%) tiveram genomas virais presentes. O Rinovírus foi o mais prevalente (20% de todos os testes positivos). Na unidade de cuidados pós-operatórios, 14 pacientes tiveram eventos clínicos e hemodinâmicos relevantes, com impacto no tempo de ventilação mecânica (p<0,001).
CONCLUSÕES: É surpreendente a presença não suspeitada de material genético de vírus respiratórios em vias aéreas nesta população. Uma vez presentes em vias aéreas distais, estes vírus podem estar relacionados a remodelamento, e implicados em transtornos pós-operatórios. Pacientes com indicação cirúrgica, especialmente aqueles sujeitos a infecções repetitivas, devem ser alvo de medidas preventivas como o isolamento social, tratamento precoce e planejamento adequado de intervenções fisioterapêuticas tanto no pré-operatório quanto no pós-operatório.