Introdução: Tumores cardíacos primários são raros, cerca de 80% são benignos e mixoma é o mais comum em adultos. Quanto a tumores valvares, fibroelastoma papilífero é o mais prevalente, e faltam dados clínicos e prognósticos. Objetivo: Avaliar prevalência, características clínicas e prognósticas de tumores valvares em pacientes com tumor cardíaco submetidos à cirurgia. Métodos: Estudo unicêntrico, retrospectivo, incluindo pacientes com tumor cardíaco submetidos à cirurgia de 2013 a 2020. Realizada avaliação clínica, laboratorial, ecocardiográfica e anatomopatológica. Tumor valvar foi definido pelos achados cirúrgicos/histológicos. Eventos adversos pós-cirurgia, mortalidade em 30 dias e 1 ano foram avaliados. Os pacientes foram divididos em 2 grupos, com e sem tumor valvar, para comparação de características clínicas e desfechos. Resultados: incluídos 69 pacientes com mediana de idade de 56 [44-64] anos, 78,3% do sexo feminino. A manifestação clínica mais comum foi insuficiência cardíaca (54,5%), sem diferença entre grupos. Não houve diferença quanto às comorbidades, exceto fibrilação atrial (FA), mais prevalente no grupo valvar (22,2% vs 0%, p=0,016). O risco cirúrgico avaliado pelo EuroSCORE II foi 0,94 (0,75-1,47)% no grupo não valvar e 1,64 (0,66-2,225)% no valvar (p=0,302). Ao ecocardiograma, 23 (37,1%) pacientes apresentavam tumor com acometimento valvar, sendo a valva mitral a mais acometida (72,7%), a maioria era pedunculada (57,1%) e a principal câmara acometida foi átrio esquerdo (79,7%). Na análise histológica, o tumor não valvar mais prevalente foi mixoma (91,7%) e o valvar, fibroelastoma papilífero (66,7%). Tumores valvares eram menores (10 [6,25-42,5] vs 42 [28-60] mm; p=0,005. Cinco (7,2%) pacientes realizaram troca valvar (3 mitrais) e 10 (14,7%), plástica (9 mitrais). Tempos de circulação extracorpórea e anóxia foram maiores no grupo valvar (99 [71-131] vs 57 [48-79] min; p=0,005 e 77 [43-97] vs 35 [30-48 ]min; p=0,003, respectivamente]. FA foi o único desfecho adverso pós-cirurgia com diferença entre grupos, mais prevalente no valvar (33,3% vs 6,7%; p=0,042). Mortalidade em 30 dias foi 4,3%, sem eventos a longo prazo (fig. 1). A mediana de seguimento foi 32 [20-43] meses. Conclusão: Tumores valvares são raros em pacientes com tumor cardíaco submetidos à cirurgia. O perfil clínico e prognóstico são semelhantes aos do não valvar, exceto pela histologia, predominando o fibroelastoma papilífero. A mortalidade foi superior à estimada pelo EuroSCORE II na população geral, ocorrendo precocemente após cirurgia, com bom prognóstico a longo prazo.