Fundamento: A estratificação de risco dos pacientes no pré-operatório de cirurgia de troca valvar aórtica é um desafio. A maioria dos escores de estratificação de risco são muito complexos e realizados fora da América Latina.
Objetivo: Nosso objetivo é avaliar uma nova classificação de risco adaptada de Généreux em uma população brasileira para prever um desfecho combinado de óbito e readmissão hospitalar em pacientes submetidos à cirurgia de troca valvar aórtica.
Métodos: Estudo retrospectivo unicêntrico envolvendo 196 pacientes submetidos à cirurgia de troca valvar por estenose aórtica importante. Cada indivíduo foi classificado de acordo com o grau de acometimento cardíaco avaliado pelo ecocardiograma em três grupos denominados Généreux modificados, sendo: Grupo 1: sem dano cardíaco ou minimamente comprometido. Grupo 2: lesão ou disfunção secundária da valva mitral ou átrio esquerdo. Grupo 3: presença de hipertensão pulmonar, envolvimento da valva tricúspide ou ventrículo direito.
Resultados: A mediana de idade nos grupos 1, 2 e 3 foi de 63 (54-73) versus 69 (65-75) versus 70 (61-79) anos, respectivamente (p= 0,006). Não encontramos diferenças significativas entre os 3 grupos quanto à área valvar aórtica (0,8 [0,6-0,9] versus 0,7 [0,6-0,8] versus 0,7 [0,65-0,85] cm2, respectivamente; p=0,056) e o gradiente médio (50 [41-62] versus 56 [46-68] versus 48 [40-57] mmHg, respectivamente; p=0,202). Também houve diferença entre os 3 grupos, 1,4% versus 8% versus 25%, respectivamente (p=0,001) quanto à mortalidade em 30 dias, porém após análise de subgrupo a diferença foi apenas entre os grupos 1 e 3 (p<0,05). Na análise da curva de Kaplan-Meier (Figura 1), com seguimento mediano de 16 (2-25) meses, encontramos diferença entre os 3 grupos quanto ao desfecho combinado de óbito e readmissão hospitalar (log-rank p< 0,001). Na análise multivariada, a nova classificação pelo escore de Généreux adaptado (HR 2,00, [IC 95% 1,294-3,097], p=0,002) e o gradiente transaórtico médio (HR 0,973, [IC 95% 0,951-0,996], p= 0,021) foram preditores independentes do resultado composto.
Conclusões: A nova classificação proposta foi um preditor independente de mau prognóstico, e quanto maior o grau de acometimento cardíaco, menor a sobrevida no primeiro ano de seguimento. O gradiente transaórtico médio também foi preditor de desfecho, sugerindo que a estenose aórtica de baixo gradiente também tem pior prognóstico.