Fundamentos: O tratamento medicamentoso otimizado em pacientes com insuficiência cardíaca (IC) acarretou redução importante na mortalidade por todas as causas e na hospitalização por IC, porém aumentou a hospitalização por hipercalemia. Embora seja esperado um aumento na concentração plasmática de potássio com o tratamento atual da IC, devido ao uso de inibidores da enzima de conversão da angiotensina II (IECA), bloqueadores do receptor de angiotensina (BRAs), receptor de angiotensina – inibidor da neprilisina (ARNi) e espironolactona, o impacto da hipercalemia na mortalidade intra-hospitalar não é bem conhecida. Até o presente momento não existem estudos robustos para avaliação do impacto da hipercalemia no desfecho de morte e tempo de hospitalização de pacientes admitidos em serviço de emergência no Brasil.
Objetivo: O objetivo do presente estudo foi avaliar o impacto do nível plasmático de potássio na sobrevida de pacientes admitidos no serviço de pronto atendimento do Hospital BP.
Material e métodos: Foi realizado estudo retrospectivo através da coleta de base de dados eletrônica de pacientes que procuraram o pronto atendimento (PA) do hospital BP no período de 17 de julho de 2017 a 31 de março de 2019.
Resultados: A amostra é composta por 5833 pacientes, com tempo de permanência média de 11,0 (DP±14,0) dias e idade média de 59,1 (DP±23,8) anos. Os pacientes possuíam em média 4,1 (DP±0,6) mmol/L de potássio. Os pacientes avaliados foram divididos em categorias pela concentração de potássio: < 5, entre 5 e 6 e > 6mmol/L), 5492 (94,2%) apresentavam potássio menor que 5 mmol/L, 314 (5,4%) de 5 a 6mmol/L e 27 (0,5%) apresentavam valores superiores a 6mmol/L. Apresentavam IC 2,9% dos pacientes, 0,3% DRA e 1,3% DRC. Observamos que para quem possui potássio entre 5 a 6 mmol/L a chance de óbito foi 2,2 vezes maior quando comparado a valores menores que 5 mmol/L, enquanto que valores superiores a 6mmol/L apresentam 7,8 vezes mais chance. Quando ajustado apenas para potássio mensurado numericamente, a regressão com variável numérica revela que a cada 1mmol/L a mais do valor anterior, o risco de óbito aumenta em 1,5 vezes.
Conclusão: A hipercalemia na admissão hospitalar diminui a sobrevida de pacientes admitidos no serviço de pronto atendimento, sendo que, para cada acréscimo de 1mmol/L de potássio o risco de óbito aumenta em 1,5 vezes.