Introdução: A incidência de insuficiência mitral aguda grave após um infarto agudo do
miocárdio (IAM) reduziu nas últimas décadas em virtude de estratégias de reperfusão
precoces e efetivas, porém é uma complicação mecânica de elevada mortalidade.
Relato de caso: Mulher de 49 anos, admitida em sala de emergência de hospital
terciário com dor precordial de forte intensidade, opressiva, irradiada para membro
superior esquerdo, há 3 horas da admissão. Antecedentes de hipertensão, doença
renal crônica, tabagismo e IAM prévio. Ao exame físico: regular estado geral, FC 90
bpm, PA 140x90 mmHg, FR 20 irpm, bulhas rítmicas, normofonéticas em 2 tempos,
sopro sistólico 2+/6 em foco mitral, ausculta pulmonar sem alterações. Troponina I
elevada 8728 pg/mL. Ao RX de tórax área cardíaca aumentada e congestão vascular
peri-hilar. Evolui com piora progressiva do padrão respiratório e acentuação do sopro
sistólico mitral, edema agudo de pulmão e necessidade de intubação orotraqueal. O
ecocardiograma à beira leito evidenciou rotura de músculo papilar posterior, com
insuficiência mitral importante e jato excêntrico para região anterior. Submetida à
cinecoronariografia de emergência que mostrou lesões obstrutivas graves
multiarteriais. Ecocardiograma transesofágico demonstrou além de insuficiência mitral
secundária, vegetação em valva aórtica. Paciente evolui com febre e hemoculturas
positivas, sendo iniciado tratamento para endocardite infecciosa. Posteriormente
submetida à procedimento cirúrgico de plastia mitral, exérese de vegetação em valva
aórtica, exérese de trombo em veia cava superior e átrio direito e revascularização
cirúrgica. Recebeu alta hospitalar após 2 meses de internação.
Discussão: A ruptura de um músculo papilar é responsável por até 5% das mortes em
pacientes com IAM e ocorre geralmente 2 a 7 dias após o evento. O diagnóstico é
sugerido pela presença de sopro novo de insuficiência mitral, com início súbito de
edema agudo de pulmão ou choque cardiogênico, e é confirmado por ecocardiograma.
A terapia cirúrgica de emergência é o tratamento de escolha. No caso apresentado a
paciente evoluiu com ruptura precoce de músculo papilar. Antecedente de IAM e
achado de endocardite infecciosa podem ter contribuído para precocidade de sua
instalação. O diagnóstico foi realizado com base na deterioração clínica e alteração da
ausculta cardíaca e a confirmação feita por método de imagem.