Insuficiência cardíaca é das principais doenças resultando em redução da capacidade física, sendo a doença arterial coronariana sua principal causa, especialmente em atletas acima de 35 anos. Será que insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida após infarto agudo miocárdio teria espaço no esporte?
Paciente masculino, 56 anos, com antecedente de hipertensão arterial sistêmica, previamente atleta de corrida de rua desde 38 anos de idade (meia maratona com pace médio de 3:50 min/km) procurou atendimento em pronto socorro em março de 2016 por angina típica em repouso. Ficou em observação e liberado após analgesia. Por manter dispneia iniciou acompanhamento com cardiologista e, 2 meses após episódio de dor torácica, realizou cintilografia de perfusão miocárdica com tecnécio sestamibi associado a teste ergométrico, evidenciando hipocaptação persistente extensa em parede anterosseptal, inferosseptal e ápice de ventrículo esquerdo (VE), sem hipocaptação transitória e com fração de ejeção de VE (FEVE) de 30%. Realizada estratificação invasiva mostrando lesão de 99% em segmento médio de artéria descendente anterior com aspecto de recanalização e fluxo TIMI 1 com acinesia de parede anterior discinesia de parede apical. Paciente encaminhado ao serviço terciário e optado por realizar cintilografia miocárdica com tálio-201 e estresse com teste ergométrico que resultou em ausência de isquemia e de viabilidade miocárdica. Portanto, paciente foi mantido em tratamento clínico e reabilitação cardiovascular. Em acompanhamento ambulatorial após 6 anos do evento, atualmente praticando corrida 2 a 3 vezes por semana (10 a 12 km com pace 6:15 min/km), com ecocardiograma transtorácico com aumento biatrial e discreto de VE, FEVE 38% com acinesia do segmento médio do septo e do segmento apical de todas as paredes, insuficiência mitral discreta a moderada por remodelamento ventricular. Teste ergométrico realizado com protocolo de Ellestad, interrompido após 12’45” por exaustão e atingindo 98% da frequência cardíaca máxima preconizada pela idade, sem alterações sugestivas de isquemia, extrassístoles ventriculares isoladas e raras e consumo máximo estimado de oxigênio de 56 ml/kg/min, em uso de betabloqueador.
Apesar do paciente apresentar excelente aptidão cardiorrespiratória, foi orientado manter atividades de leve a moderada intensidade (70% da reserva cronotrópica) devido a FEVE reduzida. Portanto, há espaço para esses pacientes no esporte não competitivo: após reabilitação cardiovascular, estratificação de risco e contínuo acompanhamento médico e multidisciplinar.