Introdução: Os portadores de cardiopatias congênitas são o grupo com maior risco para aquisição de Endocardite Infecciosa na população pediátrica. A etiologia fúngica da endocardite é responsável por 2 a 4% de todos os casos da doença e os fungos do gênero trichosporon são cada vez mais reconhecidos como agentes causadores de infecções invasivas nos seres humanos.
Relato de caso: Menino de 9 anos, com diagnóstico prévio de Tetralogia de Fallot, com cirurgia de Blabock-Taussing aos 6 dias de vida, correção da atresia pulmonar aos 2 anos, correção comunicação interventricular e comunicação interatrial, ampliação via de saída do ventrículo direito (VD) e inserção do tubo valvado para reconstrução da continuidade ventrículo direito e tronco pulmonar (VD-TP) aos 4 anos. Aos 5 anos, deu entrada no pronto socorro com quadro de insuficiência respiratória, com suspeita de pneumonia. Teve nova intervenção cirúrgica após diagnóstico de pseudoaneurisma micótico por Trichosporon Asahii em via de saída do VD e dilatação do tubo VD-TP, sendo necessário realizar a exérese de tubo valvado prévio. A terapêutica foi realizada com Voriconazol após a identificação do fungo (T. Asahii), apresentando boa resposta terapêutica. Em setembro de 2020, aos 9 anos, foi readmitido ao serviço, apresentando quadro de febre intermitente associado à sudorese noturna, tosse seca, distúrbios alimentares e dor no peito ventilatória dependente. Internado para investigação do quadro e iniciado Tiabendazol para tratamento de toxocaríase. Também foram evidenciadas vegetações no tubo VD-TP, com hemocultura positiva para T. asahii, iniciando terapia antifúngica com Voriconazol e sendo necessária uma reabordagem cirúrgica para a troca de tubo VD-TP, com colocação de prótese, de tubo e ampliação da junção dos ramos pulmonares, com negativação da cultura após 2 meses de tratamento. Paciente evoluiu com culturas negativas, afebril e sem queixas.
Discussão: Os restritos dados da literatura disponíveis não permitem a padronização dos métodos diagnósticos e de tratamento farmacológico para endocardite por T. asahii, além de não permitir um estudo amplo devido à falta de relatos de pacientes com recidivas após cirurgia cardíaca. Os antifúngicos disponíveis atualmente são triazóis e anfotericina B, com evidências que sugerem superioridade dos triazóis, mas a cirurgia é necessária por ineficácia desses fármacos isoladamente, o que contribui para o mau prognóstico dessa tricosporonose, com altas taxas de mortalidade.