Introdução: A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome progressiva, incurável, de elevada mortalidade, associada a alta carga de sofrimento multidimensional. Os cuidados paliativos (CP) objetivam o alívio de sintomas, promoção de qualidade de vida, devendo ser iniciados precocemente em doenças graves e ameaçadoras à vida. Este estudo objetiva analisar o perfil epidemiológico e a sobrevida de pacientes com IC acompanhados no ambulatório multiprofissional de CP de um hospital terciário.
Métodos: Estudo observacional e retrospectivo de pacientes do ambulatório de CP encaminhados de um hospital cardiológico, entre novembro/2015 e outubro/2021, com seguimento até janeiro/2022. Os dados foram obtidos pela análise de prontuários e por contato telefônico.
Resultados: Neste período a cardiologia encaminhou 122 pacientes para o ambulatório de CP. Destes, 71 pacientes (58,2%) realizaram pelo menos uma consulta no serviço, sendo incluídos para análise; os demais encaminhamentos foram agendados, mas não passaram por consultas, sendo desconhecido o motivo para o não comparecimento. As mulheres representaram a maior parcela (57,8%). A média de idade foi de 66 anos, sendo que o mais jovem e o mais idoso tinham 18 e 102 anos, respectivamente. Como etiologia para a IC: 39 (54,9%) eram isquêmicos, 14 (19,7%) cardiopatia congênita, 13 (18,3%) valvopatias, 5 (7,0%) doença de Chagas. A funcionalidade, avaliada pelo Palliative Performance Scale, foi em média de 60%, o que estima pacientes com mobilidade reduzida, doença extensa, limitação para trabalho e necessidade de auxílio para o autocuidado. Até o final do seguimento 48 (67,6%) pacientes faleceram. Dentre estes, 31 (64,6%) faleceram em menos de 1 ano após a primeira consulta, sendo que 15 (31,2%) morreram nos primeiros 3 meses, o que demonstra um encaminhamento para o serviço de CP já em fase terminal de doença, possivelmente por um reconhecimento tardio das necessidades de CP para estes pacientes. O seguimento ambulatorial de longo prazo (maior que 12 meses) foi possível apenas para uma minoria dos pacientes.
Conclusão: Os dados mostraram uma população heterogênea, que possuía indicação de receber CP e tinha potencial benefício do seguimento ambulatorial. Contudo isso foi feito em fase avançada da doença, evidenciado pela alta mortalidade em poucos meses de seguimento, o que minimiza os efeitos benéficos. O encaminhamento precoce para CP deve ser incentivado para maior alivio de sintomas, planejamento de cuidados, o que pode levar a menor número de hospitalizações e redução de custos hospitalares no final da vida.